quinta-feira, 17 de maio de 2018

A Vida Em Mim


Através de mim
chegam-me mares imensos,
corais, peixes,
vida em plenitude...
Um navio onde o fulgor é chama,
e uma limalha de ferro 
que me dilacera o peito.

Chegam-me dores
de uma existência diminuta,
olhos alheados 
em rios de infinitas mágoas
a mendigar ócio noutra latitude.

Chegam-me laivos 
sangrentos de despedida,
farpas soltas 
numa vida cheia de nada,
em que no sortilégio da metáfora, 
e no mistério da palavra escrita
consigo sentir-me afortunada.

Chegam-me sons oriundos 
de um mundo que desconheço,
enquanto sorvo faminta 
o pulsar do meu corpo inteiro.
E acredito ser carne 
e acredito ser gente, 
ser carne à altura do que é eterno
na morte que se demora 
a este soluçar de tédio.

Chegam-me limalhas de ferro 
embrulhadas em luz
e a obscena lucidez 
em que me detenho.



(eu)


Imagem. Laurence Winram

2 comentários:

  1. Um poema magnífico, minha Amiga. A vida traz-nos o tanto e o pouco que o coração reclama…
    Uma boa semana.
    Um beijo.

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  2. Que saudades, Cristina! Através de ti chega a vida, o fulgor e a dor também. Através de ti "o pulsar do corpo inteiro".

    Beijinho.

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