Agora eu sei
não é fácil ouvires-me
na quietude das sombras,
nem veres os traços do teu rosto
nas águas silenciosas do meu rio.
O tempo é escasso para lançar palavras
ao esquecimento de sonhos amputados.
Todas as correntes transportam consigo o eco das marés
e nelas navegam em silêncio uma voz sobrevivente.
Depois, há o rugir da terra a soltar o poema,
aves que ressuscitam a declarar impunidade à sua morte,
há o choque da palavra lavrada com laivos de sangue
onde a mudez se instala nos lábios humedecidos
e perpetuados em beijos inconfessáveis...
Há tanta coisa que não podes ouvir
nem ver,
neste olhar cansado e exausto
com que me abandono à cegueira da ilusão.
Agora eu sei
(eu)
Fotografia- Jaroslav Monchak