segunda-feira, 26 de agosto de 2013

EU SOU


Sou feliz! 
Mas não sei se posso dizê-lo assim tão abertamente.
Assumir alegria ou felicidade,
é quase uma blasfémia nos tempos que correm
ou uma manifestação de analfabetismo psicológico.
Dizem eles, os mestres da sabedoria de gente letrada. 

Há também quem não goste de ouvir.
A maior parte das vezes, os homens honrados
devem ser apelidados de coitadinhos, 
pobrezinhos e todas as coisas terminadas em" inhos".
Acham eles, os sábios, os deuses, os magos da sabedoria.

Não é bonito viver-se contente e olhar-se para a vida 
com olhos de quem a vê e sente.
Mas eu sou feliz e o meu coração está cheio de gratidão. 

Hoje, arriscaria até dizer que sou herdeira 
de um património interminável e vitalício.
Tudo o que os meus olhos alcançam me pertence.
No dia em que nasci,
recebi esta herança e disseram-me ser para sempre.
Vivo em harmonia com o mundo: não como animais, 
e até me tornei objectora de consciência.

Contra quê?
Contra tudo o que não é natural, contra tudo o que 
me priva da liberdade de ser feliz. Por isso sou feliz.
Da vida sei, que pouco sei. Apenas o que consegui aprender
e o que a minha sensibilidade me vai permitindo captar.

Roubar, penso que até já roubei, mas por ignorância, juro!
Talvez uma ou outra flor que de algum jardim decepei,
mas hoje planto canteiros e abraço árvores. E também sei
que:
"amor vincit omnia"

Línguas, falo todas as que falam do amor
e olho para ti, sim...tu aí, que neste momento me achas louca,
e vejo-me nos teus olhos, no teu coração e também na tua boca.

Nunca digam que matei um leão, nem tampouco uma galinha
ou uma formiga moribunda a suplicar eutanásia.
Nunca falei mal: nem dos políticos, nem das pastas dos ministros,
nem do futebol, nem do big brother, nem sequer da música pimba.

No entanto, defeitos tenho muitos:
gosto de gatos, ratos, tubarões, formigas e coelhos anões.
E de chocolates Milka.

Sou feliz e objectora de consciência!
Que querem que eu faça?... Bolas!


(eu)


Imagem: Alexander Dolgikh

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Rendição



Hoje, os dias parecem-me mais longos
sempre que estendo os braços
numa tentativa de alcançar o sol
em inexorável abraço - que a vida me permite -,
sem que necessário seja pedir-lhe licença.

Hoje talvez, até, eu possa dizer-te
que não existem medos a atormentarem-me
e que todas as palavras que escrevo 
me sabem a bagas doces e maduras
colhidas numa manhã de verão.

Quem sabe,
talvez eu sinta poder habitar o inabitável
e soletrar o indizível. (Talvez.)

Sobre ti, os meus olhos caminham - paisagem minha -
onde o meu olhar se alonga.
Pele onde estendo beijos doces, quando a língua me sabe a mel
e abafo suspiros. (Sempre que suspiro.)

Digo-te ainda:

Queria contar-te mais sobre a demanda dos dias,
azuis. E as pétalas caíam-nos dos braços, 
e tu sorrias, para que eu entendesse 
que o infinito se alonga nos céus 
e que o chão nada mais é 
que o espaço onde caminhamos. (Juntos.)

Sempre (juntos).


(eu)


Foto- Alfred Cheney Johnston