domingo, 27 de abril de 2014

A Falar de Amor



Já nem sei, quantos degraus subi 
Já nem sei, em que esquinas me demorei
nem os sóis que sem querer apaguei
ao longo - de um longo - caminho que percorri.

Onde estais, que não ouvis a minha voz?
em que lugares ela se perdeu de tanto se afirmar?
cantando com os pássaros canções de embalar.
em noites rumorosas de vento veloz.
:
:
:

Eu sei! 
Talvez os meus sonhos tenham amarelecido
ou as minhas palavras tenham perdido 
a doçura pueril das pétalas virgens 
adormecidas no meu corpo. 

Espera! 
Só mais um pouco,
Ouve-me!
eu só quero falar de amor...
deste amor com que te dou o sangue a beber
desta febre que exalta palavras que não sabem rimar
deste fervor com que me atrevo a juntar letras 

Apenas para falar de amor:

Desse rio, sem margens, sem terra, sem luar,
sobranceiro de todos os lugares 
ocultados, esquecidos, sem véspera nem amanhã.

[Como se o amanhã existisse sempre, e as palavras 
pudessem esperar o momento de serem libertadas].

Por isso eu quero que saibas:
Tudo o que escrevo
é o que a boca não sabe dizer, 
com o tom desafinado da minha voz,
em uníssono com as melodias do coração.

Por isso, 
subi a este lugar elevado, sagrado
para te falar de amor
para que somes às tuas memórias 
o que eu perpetuo nas minhas 
sempre que me apetece 

voar com os pássaros

(eu)

Imagem - Igor Voloshin

quarta-feira, 9 de abril de 2014

Anda, Vem Comigo




Há um lugar no infinito, onde todas as coisas começam. 
Como aquela luz que se acende no coração, sempre que trespassas o meu corpo.
Depois, olho-te com o meu olhar agradecido e espero o beijo que antevejo desenhar-se nos teus lábios.
Só assim poderemos juntar-nos aos pássaros, e em voo planado atravessarmos todos os vazios.
Existem abismos que não se conformam com esta fusão mais ou menos nuclear dos avessos. 
Mas eles tocam-se em todos os pontos onde se inicia a vida. Ou o brilho da luz.

Anda, vem comigo!


(eu)


Imagem - Igor Voloshin

domingo, 6 de abril de 2014

Gritos de Amor



Hoje grito-te o meu amor
meu homem
meu príncipe 
meu amado
meu amante 
ladrão errante 
deste coração dilacerado

ah!,...como eu te amo!

Bebeste-me o sangue
o fel
a saliva
a linfa
tudo o que em mim havia 
contigo foi partilhado.

Caíste a meus pés e idolatraste-me
como deusa
entregaste-me o corpo
e eu beijei-te 
os olhos
os lábios
o peito
o ventre 
e em troca dei-te o meu poema.

ah!,...como eu te amo!

Desfolhaste -me 
os versos 
trocaste as letras
inverteste as sílabas
sugaste-lhes a alma 
tão ávido estavas 
das minhas rimas.

ah!,...como eu te amo!

No meu livro em branco 
deixaste sementes da tua poesia
quiseste-me nua
despojada
sensitiva
airosa 
e num acto de amor
escreveste um poema
chamado
Vida. 

ah!...como eu te amo...

(eu)

Imagem- Darren Hopes