sábado, 27 de abril de 2013

Sei




Sei 
desse tempo 
vertiginosamente doce
de um sol breve
em que todas as línguas
tinham sabor 
a beijos.

Sei 
da forma
como transgredíamos 
as horas
e iludíamos os corpos,
permitindo ao esquecimento
coisas 
insignificantes.

Só que agora
as palavras desaguam 
em rios de silêncios, 
adormecidos.

E o leito que nos embala
a vida,
guarda também
o segredo 
da nossa morte.

Num mar de esperança 
sem tempo marcado.

Sei...
porque sei!

(eu)

sexta-feira, 19 de abril de 2013

O Esculpir da Palavra

                                                                                                                           
                                                                                                               

Na aflição do teu olhar
pressinto o tumulto das palavras
impossíveis
aquelas a quem roubaram o sangue
o ventre os seios
e por isso se tornaram inférteis.

Pressinto o descodificar da duvida
e a insuficiência 
com que são atiradas p'ra vida
no momento em que caem no chão
escorregadas das mãos de um poeta 
qualquer.

É nesse silêncio nefasto
onde não consegues habitar
que a tua boca saliva com prazer 
vocábulos adulterados
e vomitados pela ausência da estrutura 
indestrutível da tua voz

Diria eu, que é nesse momento
que o poema te atravessa o peito
e repudias a insignificância 
das palavras acorrentadas.

As aves nocturnas vestem-se de luz
inundando-te o olhar...

(eu)
Imagem- Daria endresen

terça-feira, 16 de abril de 2013

Abandono



Sento-me à sombra do poema
naquele lugar
onde dei vida ao meu primeiro verso.

Estendo os braços ao sonho
cansada da lucidez com que repudiei
fantasmas 
e aboli todas as almas negligentes
que tentaram cortar-me as veias.

O sangue fustigado continua 
a forçar a vida dos meus lábios 
sem conseguirem dar cumprimento 
às palavras
desalinhadas na insipidez da voz.

Despida da pele que me envolve
ouço o estrondo da alma que se comove 
atirada à inocência do sonho 
que lambe o silêncio
no interior das bocas 
consentidas,
caladas , frias, 
despudoradamente
mudas.

(eu)

domingo, 14 de abril de 2013

Mais um Dia




Mais um dia, em que tomou consciência da inutilidade da sua existência.
Sabia-se diferente desde sempre. 
O olhar claro e ampliado com que via o mundo, começou a 
perturbá-la, pela forma simplista com que se vira obrigada a olhar para o reflexo da sua imagem.
Todos os dias lhe era pedida uma "calma" que não possuía. 
Os seus braços cansados, já sem força para abraçar as flores que lhe foram colhidas da alma, penderam ao longo do corpo. Inertes, como hastes secas... sem vida!
Sentou-se. Vencida pela inércia de um pensamento sem voz, queria apenas que a sua sombra se esfumasse.
Do olho direito sentiu escorrer uma lágrima. Nela habitava a história que não era capaz de continuar.
E assim se ia deixando diluir, em cada gota de sal que lhe chegava aos lábios, ao mesmo tempo que escrevia palavras, em tom de despedida...

(eu)

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Desespero




Talvez ela fosse guardiã de um segredo,
talvez a morte fosse o castigo mais justo 
para o seu silêncio.
Talvez até, ela suicidasse a memória
e repudiasse quem a cegou.

Tão injustamente 
tão cruelmente
lhe fora tirada a visão de todos os sonhos.

E nas mãos continuava a segurar
a insuficiência 
com que a ensinaram a olhar p'rá vida.

(eu)

domingo, 7 de abril de 2013

Há Dias Assim...




Talvez os olhos lhe brilhassem como diamantes e nos lábios se desenhasse um convite implícito, a que ele não conseguiu resistir quando ela inclinou a cabeça e o fixou nos olhos como se estivesse a inquirir-lhe a alma.
Por impulso ou não, como que atraído por uma força que só o amor pode explicar, aproximou seu rosto do dela, na urgência de a beijar.
O momento era aquele... e, só aquele...
Ela corou, surpreendida com o à vontade daquele gesto, tão genuíno e ímpar do seu amado, que por momentos esqueceu o resto do mundo, existindo para ele, apenas aquele sorriso que o trespassava.
O café soube-lhe melhor que noutro dia qualquer. Naquele instante, a sensação de plenitude foi de tal forma grandiosa, que até esqueceram o troco em cima do balcão.
Ás vezes há dias assim...em que o sol resolve aquecer-nos a alma e sentimos o corpo emergir do vazio, como uma pomba branca a sobrevoar o céu.
Ele sabe, ele sabe bem... que a dúvida dela, é sobre a cor que emana do seu olhar. Mas naquele momento ele viu mais... muito mais! Ele conseguiu ver o amor a fluir nos seus lábios, pintados com a cor da inocência e sentiu o pulsar estrondoso do seu coração.
Às vezes há dias assim, em que o mundo nos parece perfumado de rosas, tornando-nos tão imensos, que somos capazes de interiorizar todo o universo.
Quanto pode valer um café? Às vezes um sopro de vida...quem sabe...

(eu)

sexta-feira, 5 de abril de 2013

Essa Cegueira Maldita




O medo arrepia a pele
alimenta-se do sangue 
e absorve todas as verdades
que não consegues ver 
diante do próprio rosto.

E porque o mal, 
continua a ser um enigma natural
da cegueira humana,
a infelicidade alimenta o ego
de quem vende os olhos,
para forjar a luz da alma

Abre os teus poros e atreve-te à vida
ou não...

(eu)