quarta-feira, 13 de maio de 2015

As Aves


Há um lugar 
onde as aves se juntam para morrer,
sem ruído, 
na limpidez de um silêncio que se faz ouvir
em música suave, 
apropriada ao terminus da vida.
Todos os outros sons seriam desnecessários:
ficariam silenciados 
pela imensidão do momento.

O rumo é para poente.
É lá que se preparam para a morte
(mesmo aquelas que costumavam voar para norte).
É um lugar no espaço que as aguarda na noite, 
ofertando-lhes um regaço de matéria inexistente.

Tudo é ilusório e desconexo.
Os rostos desabitados sem expressão
sentem o peso dos dias em que lhes faltaram, 
não sete palmos e meio de chão
(que é a terra que um homem necessita),
mas dois pedaços, 
onde não conseguiram pousar os pés.

E por isso se fizeram aves,
para poderem suportar 
a impunidade da sua morte.


(eu)

Imagem- Google