domingo, 23 de fevereiro de 2014

Transpondo Margens



Contra a loucura da minha pele, anuncio-me à vida e torno-me Pedra Filosofal.
Bendita mistura alquímica, entre um pedaço do meu corpo e o seu avesso.
Há uma parte que me arde, como gotas de álcool em ferida aberta. 
Há uma parte que flutua, entre duas margens impostas pela vida, ao voo dos pássaros.
Mas a outra, a que se diz ser (eu), transborda, como se transportasse dentro do peito, um oceano inteiro.
Decidi por vontade unanime das minhas duas partes, deixar os pássaros sobrevoarem os céus do meu rio.
Soltei-os ao anoitecer, enquanto a lua se espelhava calma e serena sobre as minhas águas.
E a vida transbordou para além das margens que um dia, eu própria lhe impusera.
Ao amanhecer, vi sois que anunciavam a infinitude de todas as coisas. 
Ainda um pouco atordoada, juntei-me ao voo dos pássaros, unida em uma só pele, em uma só carne .
Em uma só alma.

(eu)


Imagem- Igor kozlovsky and Marina Sharapova

sábado, 22 de fevereiro de 2014

Vida Para Além das Margens




O rio que tudo arrasta, diz-se que é violento. Mas ninguém chama violentas às margens que o comprimem.


Bertolt Brecht

sábado, 15 de fevereiro de 2014

Parabéns Filha

Dia 15 de Fevereiro de 1983, terça-feira, dia de Carnaval, pelas 20,35h recebi a bênção de ser mãe pela primeira vez. Uma menina linda, pesava 3,650 Kg, e chamámos-lhe Ana.


Dia 15 de Fevereiro de 1920, era domingo e nasceu o meu pai. 
No dia em que fez 63 anos, teve a enorme alegria de ser avô pela primeira vez. O presente mais lindo 
que teve na sua vida, dizia ele. 

Hoje faria 94 anos. 


Parabéns querida filha Ana...um dia muito feliz! Adoro-te!



Ainda sinto em mim

aquela nascente que se quis vida; 
ainda sinto em mim 
aquele coração quente a dizer-se agasalho.

E vejo em ti 
a influência do orvalho 
da minha carne 
na tua carne.

O sangue que corre, escorreito, 
partilhado 
em veias que se entrelaçam, 
sempre que os teus braços 
me abraçam 
e lembram, quando te colocava ao peito
e o meu ventre te servia de leito.

Ainda sinto em mim 
esta vontade em te embalar
sempre que pressinto esse teu olhar 
a inundar-me a alma
como se fosse mar a saber amar.


(eu)



Adoro-te



quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Em Viagem



Sei-te meu amor, viajante do meu corpo. Reconheço o delírio pungente das tuas mãos
ao tocarem-me suavemente a pele, para não me acordarem os sentidos.

É lá que escreves os silêncios de sensações descontroladas, iluminadas pelo riso do sol,
que inevitavelmente confundes, com o brilho do meu olhar.

E continuas a circular, em movimentos redondos, à espera de um sinal para que possas avançar 
à descoberta de novos mundos, de novos lugares, onde os olhos mudam de cor, e as línguas têm outro sabor.

No entanto, neste marasmo de emoções, há qualquer coisa a selar-me a boca, como se os lábios ficassem 
agrilhoados aos beijos imaginados no apalpar dos meus sonhos.

Sim meu amor! É nesta escrita metafórica, utópica e talvez estúpida, que a minha alma se solta e te autoriza a continuar 
até ao infinito, a viagem com que continuamos a sonhar.

Nunca temas o esverdeado do meu olhar, nem o desmaiar da boca, que se cala, cansada de tanto te amar...

(eu)


Fotografia- Alfred Cheney Johnston