segunda-feira, 24 de junho de 2013

Hoje Falo de Amor



Hão-de nascer estrelas e mais estrelas em tuas mãos,
e com elas farás um colar de brilhantes.
Colocá-lo-ás no meu pescoço e a seguir vais segredar-me:
- Um dia morrerás com ele, e nesse dia, à noite, todo o firmamento se iluminará;
todas os astros tomarão o seu lugar, e tu serás vento, pó e ar.
Assim será, assim vai ser...

Compreendi o enlace ofuscante do amor - disse-te! -,
Cuja luz foste capaz de colocar sobre a minha pele, iluminando-a,
- voltei a dizer-te.
E nesse momento transformaste-me em céu, ainda que não fosse o tempo;
Só então percebi o pacto que acabaras de fazer comigo!

Cada brilhante reflectia em mim o espectro da luz,
como se um arco-íris me abraçasse em aliança mensageira
simbolizando algo que se tornava eterno: sete cores, sete notas musicais,
um arauto divino, transportando nas mãos sete sóis.
Um dia morreremos e ficaremos eternos, disse-te eu!
Eu e tu...tu e eu?, perguntaste-me.
Sim! Seremos sempre dois! Sempre dois,
enquanto um de nós viver, respondi-te.
Unidos por um colar de estrelas, aquelas que tiveram de morrer
E se transformaram em pó
para que tu e eu, eu e tu, tivéssemos oportunidade de existir.

É assim que vejo o mistério...
(eu)  


Imagens- Anna Berezovskaya
                                



(eu)


                                                                       

segunda-feira, 17 de junho de 2013

Talvez



Hoje as palavras saem-me gélidas
e os versos surgem descompassados 
e fora de tempo.
Nem mesmo assim consigo travar
este impulso que me sacode a alma.

Há uma inquietação dentro de mim
como se o poema quisesse saltar 
sobre vernáculos sentires.
no dilema de um silêncio em maré de luto.

Não vislumbro um único luzeiro
nesta palinódia em que me encontro.

Pesa-me o cansaço dos silêncios
em que caminho sem ruído
para não acordar metáforas
escondidas na minha própria sombra.

As pálpebras vergam-se à luz
e as estrelas da noite envergonham-se
da inactividade do meu pensamento.

Tudo se desalinha nesta pérfida dormência
em que me petrifico.

Pouso a pena sucumbindo à dor
e o poema perde a força para sangrar.

Eu juro que tentei sorrir
mas hoje, os meus versos
pediram refugio a uma sombra nocturna.

Talvez amanhã eu fale d'Amor!
Talvez...
(eu)

Imagem-Alexander Dolgikh

quinta-feira, 13 de junho de 2013

Carta a Tery









[Às vezes não te reconheço, Tery!]

Mudas a voz ao mundo 
e vens dizer-me
que os meus poemas são mudos!
Eu não escrevo para falar de coisas que não gosto,
nem sequer para repetir vezes sem fim 
mentiras escabrosas
- para isso existem os meios de comunicação
social...!

Há muitos sábios que por aí andam
a fazerem-te cair no engodo de histórias
mirabolantes, 
anestesiam-te cada vez mais
o cérebro 
e tu gostas! 

[O pior é que tu gostas, Tery!]

Ah...já sei! 
Talvez eu devesse falar de política,
futebol, da novela da noite, ou quem sabe, 
...do Big brother! 
Ou então escrever uma epopeia,
qual Ilíada ou Odisseia!,
ou de Virgílio a Eneida.

[Já não há heróis, Tery...!]

Assim... o último que me lembro...
foi Vasco da Gama!
[Ah...mas esse pertence a Camões!]
Que mesmo lá no fundo do túmulo
será sempre elevado acima
das possibilidades humanas
pela coragem e sabedoria...
[Não esquecer também a valentia!]

-"Mais do que permitia a força humana,"-
assim se lia e relia... 

[Outros tempos, Tery...!]

Eu escrevo apenas desabafos
quando os meus dedos se enchem desta 
tremedeira incontrolável
nem sempre quente ,nem sempre morna
mas que me faz arder a pele e a torna 
extrapolável

É este o caminho que a minha escrita segue:
Arregaço as mangas num impulso
e pouso as mãos sobre a folha de papel
- não vá isto ser doença que se pegue!

[E tu, Tery! ...!]

Olhas-me com esses olhos devastadores
inquiridores, acusadores, como se fosse culpa minha
as cheias que nos surpreendem no verão
ou como se eu pudesse escolher
entre um tsunami ou a lava de um vulcão...

[Mesmo assim, acho que prefiro a lava:
o fogo tem mais a ver comigo,
e não é pelo signo,
não!
O meu signo é Escorpião! Água!
Que se adentra por mim em rio
como um fio de luz 
ou uma chama flutuante
numa veia mais ou menos obcecada
que me impede ficar calada.]

[Agora Tery...!] 

O que era mesmo importante saber
para que o meu poema pudesse ter estatuto,
era que temática escolher
para que não saísse mudo...

[Tchau, Tery!]

E não é que tchau 
está no dicionário da língua portuguesa! 


(eu)

Imagens - Anna Berezovskaya e Joanna Chrobak






sábado, 8 de junho de 2013

Feliz Aniversário!

8 de Junho de 2013 





Faz hoje 28 anos, também era sábado.
O dia amanhecia claro, soalheiro, talvez o dia mais quente dessa Primavera. Pelas 9:35 fui mãe pela segunda vez. Era um rapaz e chama-se António.
Um enorme beijinho de parabéns meu filho.
E muitas felicidades.

Concerto para piano e orquestra n.º 3 de Sergei Rachmaninov, interpretado por António Cebola
Acompanhado ao piano por Gonçalo Simões
1.ª parte2.ª parte; e 3.ª parte

segunda-feira, 3 de junho de 2013

Ao Som de Uma Flauta



Todos os passos
com que caminhei pela vida
me comovem.
E tornam urgente
o momento de legitimá-los
através da palavra.


                      E como musica de fundo
                             ouço o som de uma flauta!

           Por
               isso
                     testemunho:


Sempre que me deténs o rosto
entre as tuas mãos trémulas,
canso-me de tanta lucidez,
e emerge em mim
a vontade de mergulhar
em vagas grisalhas
de um mar de rosas brancas.

                                 E como musica de fundo
                                        ouço o som de uma flauta!


Como se me segredasse ao ouvido
que essas águas em que tento me afogar,
são as vestes da inocência despudorada
do meu corpo nu, lançado ao abandono


numa
     noite
           que se re.veste

                        de luar

                               
                                  E como musica de fundo
                                         ouço o som de uma flauta!


Tornando irreprimível esta força do amor
que me rasgou o ventre
e as minhas mãos se ergueram na busca
incessante da luz que nos glorificou a vida.

Por
   isso
        a partir
                 d'agora

                         o Poema
                                   também

                                           é vosso:

                           
                                              Tendo como musica de fundo
                                                      sempre o som de uma flauta!


Sim, sois vós meus frutos amados
a fonte que me sacia a sede.
Sois vós o enigma do mistério sublime
de dois corpos unidos
que fazem gemer estes versos lúcidos
do sentimento que me preenche.

Sois vós, o cumprimento de uma vida sem guião,
o movimento mais sublime de uma eterna paixão,
o vulto incandescente de duas mãos
que me moldam o rosto
e me incendeiam o sangue...


a pele
       arde-me:
                 ado
                    ci
                      cada
                          mente....


                                           Tendo como musica de fundo
                                                  sempre o som de uma flauta!

Sim , sois vós meus filhos amados
o testemunho exacto
desse lugar onde pretendo envelhecer
até que meu corpo já flácido se molde:

          à
             exactidão
                       deste

   ]In
       fi
          ni
             to[

     



         A
          M
           O
            R

                                           Tendo como musica de fundo
                                                     sempre o som de uma flauta!

(eu)


Imagem: Joanna Chrobak e Hendrick  ter Brugghen