quinta-feira, 13 de junho de 2013

Carta a Tery









[Às vezes não te reconheço, Tery!]

Mudas a voz ao mundo 
e vens dizer-me
que os meus poemas são mudos!
Eu não escrevo para falar de coisas que não gosto,
nem sequer para repetir vezes sem fim 
mentiras escabrosas
- para isso existem os meios de comunicação
social...!

Há muitos sábios que por aí andam
a fazerem-te cair no engodo de histórias
mirabolantes, 
anestesiam-te cada vez mais
o cérebro 
e tu gostas! 

[O pior é que tu gostas, Tery!]

Ah...já sei! 
Talvez eu devesse falar de política,
futebol, da novela da noite, ou quem sabe, 
...do Big brother! 
Ou então escrever uma epopeia,
qual Ilíada ou Odisseia!,
ou de Virgílio a Eneida.

[Já não há heróis, Tery...!]

Assim... o último que me lembro...
foi Vasco da Gama!
[Ah...mas esse pertence a Camões!]
Que mesmo lá no fundo do túmulo
será sempre elevado acima
das possibilidades humanas
pela coragem e sabedoria...
[Não esquecer também a valentia!]

-"Mais do que permitia a força humana,"-
assim se lia e relia... 

[Outros tempos, Tery...!]

Eu escrevo apenas desabafos
quando os meus dedos se enchem desta 
tremedeira incontrolável
nem sempre quente ,nem sempre morna
mas que me faz arder a pele e a torna 
extrapolável

É este o caminho que a minha escrita segue:
Arregaço as mangas num impulso
e pouso as mãos sobre a folha de papel
- não vá isto ser doença que se pegue!

[E tu, Tery! ...!]

Olhas-me com esses olhos devastadores
inquiridores, acusadores, como se fosse culpa minha
as cheias que nos surpreendem no verão
ou como se eu pudesse escolher
entre um tsunami ou a lava de um vulcão...

[Mesmo assim, acho que prefiro a lava:
o fogo tem mais a ver comigo,
e não é pelo signo,
não!
O meu signo é Escorpião! Água!
Que se adentra por mim em rio
como um fio de luz 
ou uma chama flutuante
numa veia mais ou menos obcecada
que me impede ficar calada.]

[Agora Tery...!] 

O que era mesmo importante saber
para que o meu poema pudesse ter estatuto,
era que temática escolher
para que não saísse mudo...

[Tchau, Tery!]

E não é que tchau 
está no dicionário da língua portuguesa! 


(eu)

Imagens - Anna Berezovskaya e Joanna Chrobak






8 comentários:

  1. Será que depois dessa profundeza toda, Tery ainda achará o poema mudo? Linda também a imagem! Parabéns!

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  2. o que verdadeiramente importa, estimada Cristina, é "levar a carta a Garcia". e isso, creia, é conseguido neste seu texto.

    li e reli, e, destes momentos, lhe fico grata.

    beijinho, bfs
    Mel

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  3. acho que a mensagem está dada.
    concordo com o comentário da Mel e lembrei de um poema de uma amiga minha que se intitulava "uma carta a garcia" que embora diferente deste também deixava assim uma mensagem.
    gostei muito e achei que está um pouco diferente do teu estilo.
    muito bom mesmo!
    um beijo
    :)

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  4. Salvé Cristina

    Cumpriu-se, não pelo mutismo, mas pelo som...das palavras.
    Tchau que afinal é Ciao!

    Sempre...
    Eternamente...
    Mariz

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  5. Interessante e criativa com passagens fantásticas para que o Tery tenha a consciência do grito,
    que não cala, dos versos que levam vidas.
    Muito bom Cristina.
    Carinhoso abraço amiga.
    Bjo.
    Bom fim de semana.

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  6. Um texto fabuloso com a transmissão de uma mensagem que achei profunda e pertinemte.
    O grito de um poema é das coisas mais belas que a escrita pode ter.

    Bom fim de semana

    Bjgrande do Lago

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  7. Oi Cristina,
    Lindo demais! Arrepia a pele, a força contida nas palavras
    desta linda poesia!
    Beijos!

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  8. Felicito-te pela lucidez do pensamento, vertido em grito de palavras. Escreves muito bem!
    Beijo, querida amiga.

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