domingo, 23 de setembro de 2012

Insanidade Poética



Insanos são estes versos que te abraçam
como incenso purificador
em catarse da minha existência. 

Ajoelhado como quem ora 
vejo em teu rosto desenhados os traços 
de uma réstia dependurada de luz.
Deixas resvalar as mãos
sobre as pernas ainda dobradas.

E em vénia curvas-te um pouco mais
sobre meu corpo distraído quase esquecido
balbuciando palavras que te crescem
na boca húmida e selada e que florescem
sem coragem para as dizer.

É então que as minhas mãos se estendem
em voo de ave 
e nelas vejo inscrito o poema.

Finalmente ouço-te pronunciar o meu nome.

(eu)

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

O Grito da Lua



Na memória guardo o grito da lua!
Inquieta
debruço-me sobre a espuma branca
dos dias azuis
antes que seja anunciada a morte
dos pássaros
que se suicidaram ao anoitecer.

A lua acendeu-se no vazio.
viram-se sombras desumanizadas
despojos que sobraram do nada
esvaziando seus ventres
arredondados e cheios 
de matéria incandescente.

Rebentaram junto ao mar
e nesse mesmo momento...
a lua gemeu, gritou e pereceu.

Na memória guardo o grito da lua!

(eu)

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

A Força do Silêncio



Nada é mais cruel
que esta força 
a silenciar-me a voz,
a prender-me os dedos 
arrastando pequenos pedaços de luz
colhida pelos meus olhos

[desconstruindo-me o olhar].

Nada é mais cruel
que o silencio do meu coração
sempre que as palavras crescem 
e a boca foge-me
sem vontade de as dizer

[na imutabilidade do sonho].

[Lentamente me desconstruo]

e os pássaros nocturnos 
tomam conta do meu voo:
desalinham-me os versos
conduzem-me 
para campos ensanguentados
em que cada vez mais
me dou conta:
da brevidade das estrelas.

(eu).

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Desdita



Adivinho 
as lágrimas em que te diluis
sem esperança, sem fé 
e sem perdão.

Adivinho 
teu corpo curvado no chão
com fome, sem nome
e em tormento.

Ruiu aos pés do desalento
num gesto solitário
que nada mais é 
senão: 

a voz do teu silêncio
propagado 
no infinito da tua dor
inesperadamente imerecido
amordaçado
sem amor.

(eu)

O Nascer da Poesia





Sempre que a poesia nasce, acendem-se as luzes do Paraíso, e, o poeta desassossegado, procura a estrela mais nobre para sobre ela pousar o olhar. Na coragem dos seus dedos, esculpe nas paredes do universo a casa onde deseja habitar. Constrói jardins floridos, cheios de rosas e tulipas que se multiplicam ao som de melodias ancestrais.

Vislumbres delirantes de uma memória universal.


(eu)

(eu)

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Sempre que a Vida se Escoa


Inútil descodificar o gemido
que entontece e ensombra
uma viela desabitada.

Uma luz moribunda 
de candeeiro de rua
junto a um banco de jardim vazio.

Antes tudo tinha nome
espaço e uma razão para existir.

Hoje, há o vaguear sombrio das aves
nocturnas...
um lugar, sem lugar, sem nome.
sem coisa nenhuma.

Sente-se o silêncio
do outro lado do mundo
onde um dia o desconhecido
se fez homem e esqueceu-se

Que afinal era mortal!

(eu)

domingo, 9 de setembro de 2012

A voz do Olhar



Quisera eu amor
adormecer em teu peito
rosa brava 
corporizada em poema.

Quisera eu amor
entrelaçar-me em teus braços
nesse mar de poesia
em que a tua voz
é tão somente
a voz do meu silêncio.

Quisera eu amor
ser a tua glória
a voz de todos os teus pensamentos...

e que o lume aceso no meu coração
fosse essa luz 
que tu tão bem conheces .

(eu)

sábado, 8 de setembro de 2012

A Tentação



Teimo abrir os olhos
mesmo nas manhãs
em que o sol se esconde de mim.

Sem saber para onde vou
viajo
sem destino
silenciosamente
sem vontade de regressar.

Nunca cheguei ao cimo da torre,
a meio caminho 
olho vertiginosamente
as flores que desabrocham 
no meu jardim.

Guardada na memória
tenho uma promessa de vida.

E oiço-te implorar em prece...
o meu regresso.

(eu)

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Aceitação



Subitamente, os meus olhos encheram-se de lágrimas
E o silêncio passou a habitar dentro de mim.
Ergui as mãos, saudei o sol, e prontifiquei-me
A não mais resistir a vozes de comando
Que persistem ceifar-me os pés, enquanto
Nascem rosas bravas nos campos, pintalgando-os
Com a cor do meu sangue que se esvai.

Prometi a mim mesma, deixar meus despojos, 
Junto à porta daqueles que ambiciosamente me obrigaram 
A eclodir como vultos negros numa noite de pesadelo.
Os astros adormeceram e eles persistem 
Em tornarem-se donos das estrelas.

Os corações colapsaram e das entranhas dos homens
Saí o vómito ensanguentado
Necessário a serenar a dor...
Compulsivamente a ânsia aumenta....

E as vozes dos carrascos anunciam o derradeiro silêncio...

(eu)