quinta-feira, 26 de julho de 2012

Reconstrução de Mim



Sinto em gemido a percorrerem-me o corpo
Palavras que não se calam e me atormentam
Como se se quisessem eternizar no tempo.
Entoam em raios de sol na permanência imutável
De uma luz derramada sobre os meus dedos febris.

Solta-se a dor e fragmenta-se em pedaços
Que minhas mãos não conseguem agarrar.
Esvai-se o pensamento e meus olhos elevam-se, 
O céu abre-se  sobre o meu rosto dolorido e
Ensanguentado do tempo que o esmagou.

Tremem-me as mãos e o corpo continua a soluçar
Na procura incessante de palavras 
Capazes de reconstruirem  o mundo.

Esperança vã de momentos insolúveis
Nas águas atribuladas 
Que percorrem a imaginação humana.
Do alto recebo a luz das estrelas
Em cada dia nos azimutes do meu olhar...

Dentro de mim guardo as imagens
Que meus dedos trémulos não conseguem agarrar.

(eu) 

terça-feira, 24 de julho de 2012

A Onda



Queria eu sentir seduzir-me
Pela ideia de que tudo o que existe
Provem da explosão inicial.

Dizias tu teres-me encontrado sentada 
Na cauda de um cometa.
Aproximaste-te de mim trazendo nas mãos
O pó mais nobre colhido das estrelas.
Ofertaste-me em sorriso precioso 
A maior maravilha do universo.
Pediste-me que te sorrisse alegremente 
E levaste-me para lugares secretos 
Onde nossos corpos se tornaram unos 
Com toda a matéria existente.

Multiplicámo-nos em fragmentos de estrelas,
Pedras preciosas soltaram-se do meu ventre
E povoaram o mundo com os mais belos tesouros.
Depois, perecemos afogados em ondas de amor
Mais fortes e tumultuosas que as existentes no mar.

Porque será que o sol teima ressuscitar-nos o olhar?
Tu e eu vivemos antes do tempo,
Naquele lugar que não sabemos nomear,
Antes de tudo começar.... 
E depois de tudo acabar...

Crê-me porque te digo a verdade!

(eu)

domingo, 15 de julho de 2012

Hoje Escrevo para Ti!



Há dias em que as palavras não se cansam.
Outros há, em que a vida me parece tão longa
Que não existem mais palavras que a possam preencher.

Hoje é para ti que escrevo meu amor.
Hoje sinto que os anos passaram como uma flecha,
Sem me darem tempo para cuidar das pétalas
Que tão soberbamente guardo no meu regaço.

Deste-me tudo! desde aquela tarde 
Em que as horas passaram por mim como breves instantes. 
Senti teus olhos fulminarem-me a alma
Pressenti-te meu! 
E desde então a história foi longa.
Muito longa! 
Entrámos em todas as batalhas,
Rejubilámos de alegria sempre que saímos vencedores.
E vencemos tantas...quase todas!

Hoje, não temo o fechar das pálpebras
Nem pretendo fugir do tempo, fingindo
Que o cansaço não existe dentro de mim.

Ainda me sobram olhos para as flores do nosso jardim,
Ainda me restam sonhos que gostaria ver sonhados,
Ainda me sobejam mãos para acariciar
E um coração que já não cabe dentro de mim.

Sei-te ao meu lado, meu amor! 
Sei também o que vês no fundo dos meus olhos
Cada vez que te fixo obrigando-te a desviar o olhar.
Sei do enigma da nossa existência.
Sei das forças que se moveram na nossa união.

O dia amanhece, o sonho esvai-se...
Será sempre tua a árvore da nossa vida
Pois em tuas mãos nossos frutos jamais cairão 

E quando o sol nascer, ousa simplesmente olhar...
Perceberás então, porque vias meus olhos a brilhar.



(eu)

* Poema dedicado ao meu marido António Cebola, companheiro de uma vida...

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Para quê Falar de Amor!


Queria eu não mais voltar a falar de amor
Queria eu voar noutro universo
Em que só sentisse o aroma das flores
E em que os pássaros nascessem
Dos ventres inchados das estrelas.



Queria eu que as águas desses ventres 
Rebentassem sobre as folhagens
Corcovadas e violadas de orvalho
Nas manhãs em que o sol se recusa a nascer.

Sentindo apenas o odor da terra molhada
Endeusada em mim nas manhãs em 
Que me frutifiquei, sobre um leito de rosas. 

E porque tudo o que é desejado é cumprido, 
Dentro da tua boca consigo sentir o sabor das estrelas.
E na pele dos teus lábios, envolvo o meu corpo
Nesse céu inventado por mim.
Assim o sol nasce em cada manhã no meu peito,
Ainda quente do dia anterior.

Para quê falar de amor, 
Se afinal é do ventre das estrelas
Que tudo é parido sem dor.

(eu)

quarta-feira, 11 de julho de 2012

O Caminhante



E neste caminhar lento, muito lento,
De alma cansada, percorro no sonho 
Os mais inóspitos e insólitos lugares
Nem sempre leves , nem sempre livres,
Nem sempre libertos, nem sempre felizes.

É no meio das multidões que as alas se abrem
Sem medo e sem pudor....
Afinal, nem todas as máscaras caem.
Há rostos que ficam por desvendar
Sentimentos que não se deixam sentir
E muito menos revelar.

Impedindo o caminhante prosseguir 
Em desalento o seu caminhar lento.

Resta a dor, a desilusão, o medo inabalável
De caminhar entre as alas abertas 
Por uma enorme multidão.

(eu)

domingo, 8 de julho de 2012

Pausa



...o poema teima em nascer
Das reticências que deixei colocadas
No final da minha escrita...

E neste desatino faço-me verbo.
Surjo dentro de mim em vendavais de sonhos
Invadindo todas as portas, todas as frestas,
Das florestas mais densas do meu pensamento.
É nas horas mortas que mais me atormento 
Numa procura incessante de respostas
Para tantas perguntas entrando por mim adentro.

É desalento o que a minha alma sente.
Pensava eu: a minha escrita nunca me traria dor
E muito menos desamor.
Pensava eu: palavras escritas de encantamento
Jamais levariam ao sofrimento.

Mas finalmente compreendi a força da palavra. 
Capaz de inverter o movimento giratório da terra,
Sai da boca do poeta enfeitada das sedas mais nobres
Caindo desamparada nos pergaminhos da vida. 
Onde vai ser lida apreciada e sentida.

Umas vezes contemplada ou até devorada
Outras vezes morre perdida.

No silêncio da vida, leio-me nas palavras 
Que não consegui escrever, ou então,
Naquelas que deixei morrer.

(eu)

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Eu Tinha para Mim



Eu tinha para mim,
Que não deveriamos desdenhar os afectos
Tinha para mim, 
Que os corações batendo ao mesmo compasso 
Enriqueciam a vida.
Ou melhor, eu até tinha para mim
Que a vida era o compasso de espera
Em que os corações ritmavam
E se organizavam em cadência perfeita.

Tinha para mim, tantas ilusões
Mas deixei de as ter.
Porque para mim, 
Mais vale ser, do que parecer.

(eu)

terça-feira, 3 de julho de 2012

Dias em que as Estrelas se Apagam



Pesa-me o corpo, 
Pesam-me as pálpebras
Já cansadas duma quietude tumultuosa 
E do silêncio que me persegue 
Sem conseguir encontrar um enigma 
Ou tão somente um fonema
Donde surgirá o meu último poema 

Arrefeceu-me a alma
E os sonhos que me restam
Nem sempre são suficientes 
Nem sempre são eficazes para darem 
Expressão à palavra escrita

Sobejam-me tantos sentimentos! 
Sobejam-me olhos,sobejam-me dedos 
Tudo me sobeja...
Excepto os dias em que o sol me acariciava as mãos
Em que as estrelas me visitavam
E dentro de mim crescia luz
Como um filho amadurecendo no ventre materno.

Tive o universo inteiro em minhas mãos
Quiseram os deuses entregar-me os enigmas 
Mais indecifráveis de toda a existência humana
Pus à prova o meu raciocínio lógico 
Esquecendo as teorias quânticas imperceptíveis
Aos olhos mais sábios e experientes.

Senti crescerem-me no ventre 
As rosas que me foram prometidas 
No dia em que me fragmentei em pedaços 
Da minha própria existência. 
Nelas depositei a esperança dos meus dias
Delas fiz o orgulho dos meus olhos
E desenhei um jardim onde as estrelas desciam
Nas noites em que dançavam só para mim.

E depois em espirais de luz regressavam
E nas minhas mãos deixavam toda a poesia do universo.

Utópico ou não, o poema nascia 
E o sonho crescia dentro de mim.

Ainda não sei porque razão
As estrelas se apagaram...

(eu)

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Sepultada entre Rosas



Diluo-me em ti...
Absorvo-me nesse corpo, tão meu
Envolvendo-me em trepadeiras de afectos.

Nos teus braços reinvento-me como ave 
Lançada do ninho no seu primeiro voo
Sobrevoando o mais belo roseiral.
Ah...como é bom o aconchego do calor
Dessa pele que me acolhe....

Como é bom procurar no teu corpo 
Esse místico lugar onde me encontro
E ao mesmo tempo me perco 
No deserto sequioso que me absorve
Ansioso do aroma da pele que me envolve.

E assim morro em ti .
Sepultada num deserto aromatizado de rosas,

Sou oásis que te sacia a sede.


(eu)