terça-feira, 31 de janeiro de 2017

Sei


Agora eu sei

não é fácil ouvires-me 
na quietude das sombras,
nem veres os traços do teu rosto
nas águas silenciosas do meu rio.

O tempo é escasso para lançar palavras
ao esquecimento de sonhos amputados.
Todas as correntes transportam consigo o eco das marés
e nelas navegam em silêncio uma voz sobrevivente.

Depois, há o rugir da terra a soltar o poema,
aves que ressuscitam a declarar impunidade à sua morte,
há o choque da palavra lavrada com laivos de sangue
onde a mudez se instala nos lábios humedecidos
e perpetuados em beijos inconfessáveis...

Há tanta coisa que não podes ouvir
nem ver, 
neste olhar cansado e exausto 
com que me abandono à cegueira da ilusão.

Agora eu sei



(eu)



Fotografia- Jaroslav Monchak

13 comentários:

  1. O rosto nas águas correntes de um espelho que não mente
    Belo o seu poema

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  2. o pior cego é aquele que não quer ver!
    poema muito belo - a destilar, harmonioso, frementes devoções
    quase prece!

    a ilustração é sublime!

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  3. Os espelhos não refletem o que de fato revelam. E das palavras "exaustas" este poema grandioso, e a escrita "purificadora".
    Um abraço,

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  4. Olá, Cristina,
    Não sei por onde você alcança minha casa. O caminho que você faz.
    Tente alcancar-me pelo www.nasdobras dodia.com.br
    Um abraço

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  5. Um poema espelho de sentires profundos e palavras rasgadas de ilusão e saudade. As aves decretam o renascimento inscrito em beijos húmidos e inconfessáveis.O teu poema fez rugir a terra. Fascinante, amiga!
    Beijinhos.

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  6. Um poema maravilhoso, Cristina. Intenso, com sonhos e palavras e silêncios a "lavrarem" o poema.
    Gostei imenso.
    Uma boa semana.
    Beijos.

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  7. Um grande poeta português, José Gomes Ferreira, agora muito esquecido, escreveu, a propósito: viver sempre também cansa. Espero que não seja esse o caso.
    Mais um grande poema, Cristina.

    Abraço

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  8. Oi Cristina!
    E ao chegar ao clímax, sabe-se tudo, mesmo que muitas vezes não queiramos mais saber.
    Que coisa linda amiga, um abandono, um sofrer que toca fundo.
    Abrçs

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  9. Pois, Cristina
    também lhe tinha perdido o rastro

    volta a ser fácil ouvir-te
    agora
    nesta hora
    de reencontro

    o Poema?
    Ah, como sempre
    profundo, belo

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  10. Oi, querida Cristina!
    Sua poesia é linda, profunda e emocionante!
    Beijo carinhoso!

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  11. A tua poesia é macia, bonita!
    Os espelhos só refletem nossa imagem, nunca nossos sentimentos.

    Beijos e ótima semana!

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  12. Voltei. Ou regresso ao mundo dos teus poemas. E vou aquecendo o meu olhar à medida que devoro os teus versos.
    Também me adicionei aos teus seguidores.
    Um abraço,

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  13. Momentos melancólicos que as águas do teu rio testemunham, se irmanam e adensam. Por vezes, o meu rio também cumpre esta missão.
    Eloquente foi este teu diálogo!
    Bj, amiga 😊

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