segunda-feira, 17 de março de 2014

Fora de Tempo



Não podia imaginar sentir-me assim: quase enlouquecida, entre a nascente
que brota silenciosa do lado esquerdo do meu corpo, e o seu oposto.
Aquele que se quer mulher, que se veste de matéria coberta pela maciez da pele,
pelo perfume do beijo, pela suavidade dos lábios que impulsionam o desejo.

Continua em mim este frescor com que tão bem nos amamos, meu amor.

Gosto de acreditar que todas as palavras são fruto, ou seiva, deste abençoado bem querer.
Deste estado em que presumivelmente a minha alma se detém, para anunciar significações de outros tempos, daqueles em que nenhuma matéria orgânica se interpunha entre nós.
Nenhum desejo era necessário à fluidez da vida que emanava de uma fonte circular a rodar à volta de um eixo.
Hoje, neste lugar, não sei como moldar ao corpo estas sensações (tão bonitas), mas por vezes descabidas, desprovidas de senso comum. Ou apenas fora de tempo.
De um tempo que me parece real, mas onde os ventos tocam melodias diferentes:

O tic-tac de um relógio.
Tu e eu, e um só ponto. 
Um só sentir. 
Um único movimento vibratório.
Uma função matemática.
Um conjunto imagem.

Talvez um planeta 
- a que chamam - 
"Terra".

Talvez...

(eu)

Imagem- Igor Kozlovsky and Marina Sharapova

20 comentários:

  1. "Gosto de acreditar que todas as palavras são fruto, ou seiva"

    Nem pensem que, do todo e de todas, nada mais resta!
    O quê, exactamente não sei
    (talvez versos de poeta
    talvez um planeta
    - a que chamam terra)

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  2. O que importa é que esse frescor continua, o desejo pode ter tonalidades diferentes conforme o tempo
    mas nenhuma sensação do corpo poderá ser descabida.
    E o senso comum é quase sempre uma generalização que não percebe "um só sentir".
    Muito belo, como sempre.
    xx

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  3. Os ventos tocam as melhores melodias! Um texto fenomenal, parabéns! abraços

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  4. O amor em sintonia, neste "planeta a que chamam Terra" e onde as palavras são seiva e fruto...
    Bom texto. Um beijo.

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  5. Um planeta minúsculo onde palpita a vida e o amor.

    Muito bem construido, parabéns.

    Beijos

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  6. Querida Cristina,

    As relações belas ,profundas ocupam este espaço atemporal, num ritmo de dança única,colhendo o afeto,o desejo,

    o amor.E o amor espelha um universo próprio que transcende...

    Para mim,a beleza da tua poética sempre transcende,tocando a minha emoção,pois gosto da poesia que encanta e emociona.

    Neste teu espaço de arte,tenho a certeza da tua excelência poética junto com o dom especial da evocação do sentir (emoção),tornando

    o momento da leitura especial e inesquecível... E que bela imagem escolhida!

    Beijos e abraço de paz na tua alma linda!

    Ps: Adorei o teu comentário-poema,lindo...

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  7. um poema impregnado de amor e partilha.

    talvez na Terra

    talvez no Céu

    :)

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  8. Mais um texto fluído, fresco e harmonioso, Um texto que nos toca profundamente.
    Tao bom sentir o tic-tac do teu relógio poético!
    Xi coração.

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  9. Cristina,que maravilhosa poesia! Gostei desse amor partilhado! bjs,

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  10. Olá, querida Cristina!

    Tinha saudades de a ler. VERDADE! Já tinha "deitado o olho" às atualizações, mas é como nos darem uma gota, quando precisamos, no mínimo, de dois copos de água.

    Ler os seus poemas, para além do prazer, que eles me proporcionam, põem-me, também, a pensar, porque, por exemplo, neste vejo (até pareço que estou com uma bola de cristal nas mãos, e que sou "bruxinha" boa, de preferência) duas situações, que parecem contraditórias, mas, uma delas, apresenta, uma certa resignação.

    Pois esse órgão feminino, do lado esquerdo, sob a fluidez e perfume da sua pele, julgo ser o coração, que tanto amou e que continua a amar, mas, agora, de uma outra forma, porque, o tempo já não é mais o mesmo, e nada se repete, nem é como dantes.

    Nós/vocês são os mesmos, mas, de um ano para o outro, é como as roupas, parece que ficam "FORA DO TEMPO", porque a cor já destoa, a textura, também já não é a mesma, enfim, agora, é preciso remodelar, encontrar formas "vestimentas" diferentes, que encaixem no nosso tempo, nos nossos anos, que já não são verdes. Mas, agora, adaptarmo-nos a novas formas? Por vezes, isso inunda a nossa cabeça, e até nos apetece, mas se a "roupa", que, agora, escolhermos não for tão boa quanto a outra, a "velha"?

    Enfim, continuemos a "bater", embora, por vezes, sem vontade e desacertadamente, mas sabemos que este relógio é, não direi suíço, mas é português, é terreno, é como os outros, mas...eu temos-lhe afeição, apesar do descompasso e da "solidão", por vezes, sentida.

    ENFIM, VIVAMOS O PRESENTE, PENSANDO NUM FUTURO PROMISSOR, PORQUE ESTAMOS, SEMPRE, A TEMPO.

    Resto de boa semana.

    Beijinhos, com estima.

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  11. Retificando e acrescentando: mas, eu, NÓS temos-lhe afeição...

    Beijinhos,

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  12. Palavras tic tac
    a contar pelos dedos
    o som
    do relógio de pêndulo

    Bjs

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  13. OI CRISTINA!
    O TEMPO SE INTERPÕEM ENTRE O REAL E O IMAGINÁRIO, MAS, NUNCA ENTRE O AMOR E AS MARCAS POR ELE DEIXADAS, ALGUMAS VEZES NO CORAÇÃO, OUTRAS NA PELE...
    LINDO TEXTO AMIGA.
    ABRÇS

    http://zilanicelia.blogspot.com.br/

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  14. Minha querida Cristina

    As tuas palavras descrevem a plenitude do amor...o NÓS de dois seres que se amam. SUBLIME sentir.

    Um beijinho com carinho
    Sonhadora

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  15. CRISTINA,

    você se supera a cada nova postagem!!!

    "De um tempo que me parece real, mas onde os ventos tocam melodias diferentes"

    Os ventos fazem toda a diferença.

    Um abração carioca.

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  16. O amor em sintonia é das mais belas sensações.
    "... à fluidez da vida que emanava de uma fonte circular a rodar à volta de um eixo...". Brilhante.
    Neste texto mora a excelência, na forma e no conteúdo.
    Parabéns, minha amiga.
    Cristina, tem uma óptima semana.
    Beijo.

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  17. O amor, sempre o amor, aqui tão bem retratado...
    Parabéns, Cristina!

    Beijo :)

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  18. Uniões que se agigantam...

    ótimo!

    beijos

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  19. Uma semana depois, como já li, reli e comentei o teu excelente texto, venho desejar te uma boa semana.
    Um abraço.

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  20. Olá, querida amiga, Cristina!

    Como tem passado? Senti saudades suas, por isso, vim até cá. Bem sei que podemos falar por e-mail, mas, aqui, parece-me que estou mais consigo, mais perto da Cristina. Percebe?

    Reli o seu texto, de que já não me lembrava, lá muito bem, e como sempre esta dualidade, que há em si.

    Estou tão descorçoada, com este tempo! O vento desassossega-me e a chuva molha-me a alma e entranha-se, nos meus sentires. Caramba, já chega!

    Beijinhos, com estima e amizade da Luz.

    PS: não tenho novidades no meu blogue.

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