segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Passos Incertos

                                           Imagem- Escher




Ainda não sei porque me desencontrei
dos passos dos homens,
como se um fio luminoso marcasse a rota, e insistisse
em segurar-me os pés,
sobre a lâmina acutilante de uma navalha aguçada.

Amedrontada,
num equilíbrio quase forçado, ergo-me (trans)lúcida
numa tentativa infrutífera de encarar quem ousou
decepar-me os sonhos.

Silenciada,
na transparência de um Outono antecipado,
tento ensaiar o caminho, numa sequência de passos
sem retorno.

Mas ainda caminho!
.
.
.
ainda consigo caminhar...
.
.
.
Faço-me acompanhar de palavras
desiludidas pelas melodias que deixaram de entoar.
E os sorrisos que outrora me embalavam, tornaram-se hoje,
canções de despedida.
.
.
.

As marés, as noites de luar, o chilrear dos pássaros,
caíram no esquecimento das coisas sem nome.

Mas eu continuo a caminhar...
.
.
.

Num corpo cada vez mais frágil,
à medida que o coração se agiganta.
E cresce...
                       CRESCE
                                               CRESCE.


A cada passo que dou,
a venda outrora opaca que me cobria o olhar cansado,
desdobra-se no horizonte,
deixando transparecer a luz da minha existência.

Pressinto o respirar das árvores,
pressinto o canto das estrelas,
pressinto o pulsar do sangue da vida,
e, por momentos, parece-me lógica a imortalidade de todas as coisas.

Quem sabe, numa outra dimensão, estará a ser pronunciado o meu nome.
Quem sabe, estes passos me conduzirão a algum lugar.


quem sabe...
talvez
.
.

eu caminhe com destino...

Pois sem parar, de pés descalços, continuo sempre,

                                                                                       

                                                                                        a caminhar...

(eu)

3 comentários:

  1. O eu perante o avassalador, o eu perante a afronta, o eu perante o destituir da dignidade. Ainda assim, resiste, resiste sempre...
    (Trans)lúcido e mobilizador, Cristina!

    Beijo :)

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  2. Querida Cristina!

    Quem sabe!
    A vida pulsa! Vibra!
    O universo inteiro age e reage!
    Assim como nosso ser!
    Linda, muito linda sua poesia!
    Seja muito feliz!
    Beijos!

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  3. Caminhar sempre será o processo,

    o sentir a registrar

    os passos

    o respirar

    a beleza

    e a poesia viva...

    Belíssimo, pulsante!!

    Beijinhos, Cristina.

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