quarta-feira, 18 de setembro de 2013

"Quase" Digo eu...



Deixa-me que te diga:
sempre pressenti intocável 
essa tua espécie de loucura.
Por isso permitia que os lábios me sangrassem 
de tanto morder o sabor da solidão.

No peito, tinha o templo onde te venerava,
o meu corpo 
era a oração com que me ajoelhava,
perante um "quase" Deus 
que em mim habitava.

"Quase" digo eu...

Exalavas aromas a alfazema,
lavanda e alecrim,
no colo depositavas-me pérolas 
em beijos submersos de luar.
E no silêncio da tua voz eu mergulhava em mim,
deleitada... 
naqueles lençóis azuis de cetim,
sentia o fervilhar das vísceras 
e os odores da pele suada.

Hoje eu sei,
os Anjos também voam na indiferença das cores,
e nenhum Deus se permite ser amado
numa visão de tormento de um rosto 
"quase" desabitado.

"Quase" digo eu...

Bendir-te-ei sempre, meu amor, 
numa espera infindável 
entre os estilhaços da espiral da minha dor. 
Ou da minha "quase" dor.

É na transparência dos olhos que a alma se revela
e os meus, húmidos, suplicam-te que permaneças
a habitar-me os resquícios da alma,
lugar que te pertence até à decomposição
dos átomos que constituem a matéria.

Onde a "quase" loucura ainda acontece

"Quase" digo eu....

(eu)


imagem- Stephen Early

9 comentários:

  1. este "quase" é um dos teus trabalhos mais belos.
    está fabuloso.
    boa semana.
    beijo

    :)

    ResponderEliminar
  2. Boa tarde,
    O quase é mesmo ali, lindo quase do intocável, quase de uma espera infindável, ultrapassado o quase, este transforma-se num lindo caso de amor.

    Gostei

    ag

    ResponderEliminar
  3. ...permitia que os lábios me sangrassem
    de tanto morder o sabor da solidão.

    Bonito poema, Cristina!

    ResponderEliminar
  4. Olá, querida Cristina!

    Não diga, "QUASE", porque a sua escrito é TUDO.
    Acredite que li este seu poema, não sei se desabafo ou não, mas para o caso, também não interessa, com o olhar ávido, parado, e a encontrar sempre rios, toneladas de sabores bons, talento, "arte e engenho", q.b., e também alguns martírios, que ficaram no seu peito, no seu eu-lírico.

    O AMOR É MUITO BOM, MAS NÃO PODE NEM DEVE SER SOFRIMENTO.

    Pensei ler apenas o poema, e não comentá-lo, mas isso seria ingratidão e falta de sensibilidade, "predicados", que não possuo.

    Beijos da Luz, com muito apreço.

    ResponderEliminar
  5. Querida Cristina,
    Intenso, romântico e lindo demais!
    Amor com gosto, aroma e mil tons de poesia!
    Beijos!

    ResponderEliminar
  6. Minha querida, belo demais teu poema tão intenso e eu... te juro, que "quase" sempre, entrego-me a essa doce loucura. Um bj

    ResponderEliminar
  7. MUITO bom.

    Longe de "quase", esse poema é muito mais.

    bjos

    ResponderEliminar
  8. É muito feliz o título e cada passo deste poema, como se cada verso fosse uma pérola ou um beijo submerso de luar.
    Este foi um momento poético deslumbrante!
    Obrigada, amiga.

    Beijo.

    ResponderEliminar
  9. Uma espera sabiamente cantada em poesia.
    Sim, o teu poema é excelente, minha querida amiga.
    Cristina, tem um bom domingo e uma boa semana.
    Beijo.

    ResponderEliminar