segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Cumplicidades



Era a Coly , a Cely, a Taim e a Tirol.
Éramos as melhores amigas,
e em comum tínhamos gostar do sol.

Num mundo interior , só meu,
brincávamos com a terra, as ervas secas 
e as pedrinhas polidas ao sabor da erosão.

Todos os dias percorríamos juntas,
o caminho da solidão.
Eu, numa condição física superior,
sentava-me a olhá-las do alto, 
como um Deus
a olhar pelo seu povo romeiro,
e encaminhava-as docemente
para que não se desviassem do carreiro.

Primeiro aparecia a Coly, mais corpulenta
e aparentemente mais forte. 
Admirava-a pelo seu porte, pela sua altivez.
A Cely, a mais fraquinha, rendia-se à pequenez do corpo,
mas fazendo jus à eusocialidade da sua espécie,
com vaidade fingia sempre 
empurrar as que caminhavam à sua frente.

Um dia, a vida afastou-me do meu quintal.
Deixei marcado o local dos nossos encontros,
mas sem querer perdi-me no asfalto...

No entanto, por vezes ainda viajo 
pelos labirintos da calçada
e no meio do nada, procuro em vão estas amigas
numa necessidade urgente, 
de um encontro complacente com a minha essência.

Há quem diga e afirme em abono da ciência
ser verdade,
que o peso delas na terra, supera o peso
da humanidade...

Assim são algumas memórias...que comportam
o insustentável peso da insuficiência humana. 

(eu)


Imagem: Anna Wypych

7 comentários:

  1. Teus versos profundos me fizeram viajar em algumas de minhas distantes lembranças. Gostei muito. Bjusss

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  2. A cumplicidade é um belo caminho que fazemos de mãos dadas com os outros,

    com a vida e principalmente com a nossa essência (conosco).

    Devemos evitar de perder o nosso quintal, onde a nossa essência brinca e permanece...

    Sabes, Cristina, cada vez mais adoro as preciosidades do teu universo poético...

    Ler-te são momentos especiais para mim!

    Beijinho.

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  3. Podemos afastar-nos do nosso espaço, perder-nos no asfalto, afundarmo-nos nas águas dos maiores desenganos. As memórias e lembranças se encarregarão de nos devolver a calma e a bonança da infância perpétua... Beijinhos, minha Amiga e Poetisa de eleição!!!

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  4. Minha querida Cristina

    Belas lembranças que perduram no tempo, embora por vezes a vida afaste as pessoas, mas a amizade fica sempre.
    adorei como sempre.

    Um beijinho com carinho
    Sonhadora

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  5. Olá,
    Mais que queiramos desligar do passado não conseguimos, recordações quando são boas ou más, ficam gravadas para sempre.

    ag

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  6. Alguém se perdeu ou alguém nos perdeu.
    Os caminhos são mesmo labirínticos, amiga.

    Eu gosto muito do caminho poético que trilhas.

    Beijo.

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  7. Belas memórias, muito bem ditas.
    Gostei, porque fizeste um excelente poema.
    Cristina, tem um bom domingo.
    Beijo.

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