[Às vezes não te reconheço, Tery!]
Mudas a voz ao mundo
e vens dizer-me
que os meus poemas são mudos!
Eu não escrevo para falar de coisas que não gosto,
nem sequer para repetir vezes sem fim
mentiras escabrosas
- para isso existem os meios de comunicação
social...!
Há muitos sábios que por aí andam
a fazerem-te cair no engodo de histórias
mirabolantes,
anestesiam-te cada vez mais
o cérebro
e tu gostas!
[O pior é que tu gostas, Tery!]
Ah...já sei!
Talvez eu devesse falar de política,
futebol, da novela da noite, ou quem sabe,
...do Big brother!
Ou então escrever uma epopeia,
qual Ilíada ou Odisseia!,
ou de Virgílio a Eneida.
[Já não há heróis, Tery...!]
Assim... o último que me lembro...
foi Vasco da Gama!
[Ah...mas esse pertence a Camões!]
Que mesmo lá no fundo do túmulo
será sempre elevado acima
das possibilidades humanas
pela coragem e sabedoria...
[Não esquecer também a valentia!]
-"Mais do que permitia a força humana,"-
assim se lia e relia...
[Outros tempos, Tery...!]
Eu escrevo apenas desabafos
quando os meus dedos se enchem desta
tremedeira incontrolável
nem sempre quente ,nem sempre morna
mas que me faz arder a pele e a torna
extrapolável
É este o caminho que a minha escrita segue:
Arregaço as mangas num impulso
e pouso as mãos sobre a folha de papel
- não vá isto ser doença que se pegue!
[E tu, Tery! ...!]
Olhas-me com esses olhos devastadores
inquiridores, acusadores, como se fosse culpa minha
as cheias que nos surpreendem no verão
ou como se eu pudesse escolher
entre um tsunami ou a lava de um vulcão...
[Mesmo assim, acho que prefiro a lava:
o fogo tem mais a ver comigo,
e não é pelo signo,
não!
O meu signo é Escorpião! Água!
Que se adentra por mim em rio
como um fio de luz
ou uma chama flutuante
numa veia mais ou menos obcecada
que me impede ficar calada.]
[Agora Tery...!]
O que era mesmo importante saber
para que o meu poema pudesse ter estatuto,
era que temática escolher
para que não saísse mudo...
[Tchau, Tery!]
E não é que tchau
está no dicionário da língua portuguesa!
(eu)
Imagens - Anna Berezovskaya e Joanna Chrobak