Desnudei-me para escrever um poema.
Abracei-me ao ventre e agradeci ter-me sido jardim de inimitáveis flores.
Moldei os versos e mordi os lábios salpicados pela ternura desses beijos majestosos
dispersos por folhagens coloridas em tonalidades de todos os sangues.
E a vida apoderou-se de mim, vida que dei ao mundo em outras vidas, em outras carnes,
para que de igual forma colorissem outros lugares, e, deixassem testemunho do sabor
que tem o amor.
Esse sentimento inconfundível que nos entra pela pele e se aloja no peito
que é o lugar sagrado onde todas as coisas acontecem.
Por momentos apeteceu-me gritar, para que o mundo ouvisse este eco que trago
alojado na garganta. Apeteceu-me vibrar, entre a impaciência instalada sem permissão,
e a luz escorrendo da nascente, ferindo-me as retinas como se me quisesse avisar
que o infinito também se alcança nos dias mais nublados.
Olhei em redor, e voltei a cobrir o corpo.
Vi à minha volta crescerem árvores, repletas de frutos suculentos.
Com a mão esquerda segurei o livro da vida e erguia-o mais ou menos até ao nível do coração.
No colo caiam-me pétalas que eu acariciava com a outra mão, enquanto os lábios se fundiam,
na missão que ainda estava por cumprir .
(eu)
Imagem - Alina Mayboroda