Ela estava tão grávida, tão grávida, que a qualquer momento poderia dar à luz.
Meses antes, numa madrugada de verão, passara duas horas a olhar para um tubo de ensaio, colocado sobre um suporte de madeira ou plástico castanho, à espera de lhe ver aparecer no fundo, um círculo vermelho.
Sim, era um círculo vermelho no fundo desse tubo de ensaio, que lhe iria dizer se dentro dela existia vida a crescer.
Finalmente o círculo tão esperado apareceu, e nesse momento, nesse preciso momento, sentiu o coração anunciar-lhe que aí, começara a viver.
Era a primeira vez que ia ser mãe. E para ela, era tão importante ser mãe!
Com a doçura do seu estado de graça, sentia o ventre liso a pouco e pouco tornar-se saliente, enquanto um novo ser crescia nas suas entranhas e começava a ser-lhe vida e amor. Esse amor que não tem nome, que não pode ser definido pela palavra formada pela junção das letras: a-m-o-r, porque há sentimentos que transcendem a condição humana. Logo não podem ser traduzidos nesta dimensão.
A chegada do seu bebé, ficara prevista para a terceira semana do mês de Fevereiro. Entretanto, ela ia-se deliciando com os movimentos que cada vez se tornavam mais específicos dentro de si, e que a levavam a adivinhar partes do corpinho desse ser tão amado que brevemente iria poder sentir nos braços.
Seu pai, também nascido no mês de Fevereiro, desde o primeiro instante em que lhe fora anunciado que ia ser avô, sempre dissera:
"-Vai ser uma menina e nascerá no dia dos meus anos" . Frase que lhe ficou marcada na memória para sempre, e que a faz pensar como toda e qualquer intenção de amor, pode ditar uma vida.
Há trinta e dois anos, era terça-feira de Carnaval, foi também com o coração repleto de amor que ela abraçou e beijou o pai pelos seus sessenta e três anos. Mas logo pela manhã, notara que algo se passava com o seu corpo. Nada que a impedisse de festejar o dia com muita alegria, cantar os parabéns e comer bolo.
Depois...depois, cumpriu-se o que o amor ditara:
Eram vinte horas e trinta e cinco minutos, o seu ventre inchado transformou-se em vida.
Deu á luz uma menina, pesava três quilos seiscentos e cinquenta gramas e chamou-lhe Ana.
Não lhe conseguiu ouvir o primeiro choro, e o primeiro afago recebeu-o do pai, que vivera intensamente cada segundo desta gravidez, também sua.
O primeiro colo recebeu do pai, que estava lá, quando involuntariamente o da mãe foi forçado a falhar.
Estávamos no dia 15 de Fevereiro de 1983.
Obrigada minha filha, por me teres tornado mãe. Por nos teres tornado pais!
Muitos beijinhos de Parabéns pelos teus trinta e dois anos , com todo o amor e orgulho que sentimos por ti.
E nunca te esqueças:
É no brilho e na luz que o amor flui e se faz vida. É nos recônditos da alma que a felicidade se instala.
* Parabéns meu pai , farias hoje noventa e cinco anos... onde quer que estejas, sei que estás feliz por nós.
*Ah... e ela gostou tanto da experiência, que a repetiu por mais três vezes...