Sou feliz!
Mas não sei se posso dizê-lo assim tão abertamente.
Assumir alegria ou felicidade,
é quase uma blasfémia nos tempos que correm
ou uma manifestação de analfabetismo psicológico.
Dizem eles, os mestres da sabedoria de gente letrada.
Há também quem não goste de ouvir.
A maior parte das vezes, os homens honrados
devem ser apelidados de coitadinhos,
pobrezinhos e todas as coisas terminadas em" inhos".
Acham eles, os sábios, os deuses, os magos da sabedoria.
Não é bonito viver-se contente e olhar-se para a vida
com olhos de quem a vê e sente.
Mas eu sou feliz e o meu coração está cheio de gratidão.
Hoje, arriscaria até dizer que sou herdeira
de um património interminável e vitalício.
Tudo o que os meus olhos alcançam me pertence.
No dia em que nasci,
recebi esta herança e disseram-me ser para sempre.
Vivo em harmonia com o mundo: não como animais,
e até me tornei objectora de consciência.
Contra quê?
Contra tudo o que não é natural, contra tudo o que
me priva da liberdade de ser feliz. Por isso sou feliz.
Da vida sei, que pouco sei. Apenas o que consegui aprender
e o que a minha sensibilidade me vai permitindo captar.
Roubar, penso que até já roubei, mas por ignorância, juro!
Talvez uma ou outra flor que de algum jardim decepei,
mas hoje planto canteiros e abraço árvores. E também sei
que:
"amor vincit omnia"
Línguas, falo todas as que falam do amor
e olho para ti, sim...tu aí, que neste momento me achas louca,
e vejo-me nos teus olhos, no teu coração e também na tua boca.
Nunca digam que matei um leão, nem tampouco uma galinha
ou uma formiga moribunda a suplicar eutanásia.
Nunca falei mal: nem dos políticos, nem das pastas dos ministros,
nem do futebol, nem do big brother, nem sequer da música pimba.
No entanto, defeitos tenho muitos:
gosto de gatos, ratos, tubarões, formigas e coelhos anões.
E de chocolates Milka.
Sou feliz e objectora de consciência!
Que querem que eu faça?... Bolas!
Imagem: Alexander Dolgikh