Eram 17:05 e não estavas lá...
Ceguei porque não te vi
e segui com os olhos em linha recta
os ríctus das máscaras que viajavam sonâmbulas
embaladas pelo som metálico dos carris.
Ensurdeci porque não te vi
e permaneci em pé
sobre a plataforma móvel entre duas carruagens.
Os pés desalinhados buscavam os teus,
procuravam-te para que permanecesses.
A ausência do beijo às 17:05
o tempo sem tempo às 17:05
todos os relógios me ignoraram sem pedir licença
hoje, às 17:05....
Passei a língua pelos lábios que se mantinham entreabertos
e cristalizados por não conseguirem falar....
- passava pouco das 17:05-
Emudeci, porque não te vi
Atraiçoada por um amor que me fez diminuta
viva num corpo desabitado de carícias quando eram 17:05,
em imagens que falharam quando tudo parecia perfeito
e me obrigaram a vestir este olhar de desgosto.
Apenas porque hoje, nenhum relógio marcou 17:05
Imagem- Frederico Erra