Hoje a cidade alevantou-se apavorada.
No rio flutuava o seio de uma mulher meio coberto por longos cabelos negros, que se misturavam na seda azul colada ao corpo, do vestido que ousou usar, no dia em que resolveu entregar o corpo ao mar.
E assim navegava a náufraga, ao sabor do vento e do julgamento implacável daqueles que haviam atirado a primeira pedra. Viajava pelo caudal em direcção à foz.
Na praça principal, ouviam-se sirenes, como se quisessem interromper um percurso que ela própria ousara escolher: matar-se para não morrer!
Nos lábios azulados levava o sabor da fome de justiça, e o ventre parecia inchado de tanto sofrer.
A multidão continuava a aumentar, o espectáculo era digno de se ver . A chuva caía miudinha como se quisesse abençoar a suicida, e conceder-lhe o perdão por tamanha atrocidade.
Havia rumores espalhados pela cidade, que mostravam bem a falta de equidade dos conterrâneos.
Afirmavam que era jovem, apesar da placidez e anonimato de um rosto cinzelado.
Houve até quem conseguisse apreciar a sua beleza, na fugacidade da pele entregue ao destino das águas.
E assim continuou o caminho, tendo como único carinho as caricias do vento e o resto dos sonhos que com ela adormeceram.
Na manhã seguinte, o rio galgou as margens e um relâmpago abateu-se sobre a terra ...iluminando-a...
Imagem- retirada da net
Querida Cristina,
ResponderEliminarFicção ou verdade, descrita de maneira a me fazer adentrar e emocionar- me!
Colocaste leveza para descrever fato inusitado e triste!
...O mar sabe o segredo!
Tenha uma feliz semana!
Beijos!
Julgamentos apressados, quando o vento e o mar eram as únicas testemunhas.
ResponderEliminarDe uma beleza rara a sua escrita. Prende-nos. Delicia-nos.
Beijinho
Teu texto tem uma ausência
ResponderEliminardigna de referência
falta referir-te o trovão, digo-te eu
que a todos ensurdeceu
A natureza é mesmo assim quando produz juízo
(belo, teu escrito)
Olá, querida Cristina!
ResponderEliminarNão vou classificar este seu texto como de difícil entendimento, mas dá aso a várias interpretações.
Algo que ouvimos, assistimos, ou que pensamos, talvez, um dia fazer, para sabermos, depois, no além, o que disseram de nós, que causas inventaram, e que justificações engendraram, portanto, estamos a ser "JULGADOS".
Quantas pessoas não passaram já por este ou outros julgamentos semelhantes? Muitas, decerto. Toda a gente opina, mas ninguém sabe a causa, o motivo real que levou a...
Esperamos muitos mais relâmpagos, que possam iluminar as mentes, que, já se julgam iluminadas, mas que estão, talvez ainda, na Idade Medieval.
Beijinhos da Luz.
Ah, as imagens, pois!
ResponderEliminarMagníficas, condizentes e assombrosas. Algumas, a mim, causam-me, algum respeito.
Beijinhos da Luz.
São 06:10hs da manhã aqui em Porto Alegre... e eu começo a me organizar para ir ao trabalho... por enquanto, silêncio, quase não ouço barulho de carros e já começou a clarear. Enquanto isso, eu lia esse poema chamado Julgamento... lindo! Adorei lê-lo... beleza, fantasia, esperança para começar o dia e... compartilhando o teu olhar, minha linda.
ResponderEliminarSomos peritos em julgar as situações e os outros.
ResponderEliminarDaí à maledicência é um saltinho. E dizer mal dos outros é o desporto nacional mais praticado... Onde quase todos são Ronaldos.
Gostei do seu texto.
Cristina, tenha uma boa semana.
Abraço.
Que viva a luz
ResponderEliminardos relâmpagos
Bjs
MUITO BELO ESTE "JULGAMENTO" QUERIDA!
ResponderEliminarBEIJINHO <3
ESPECTACULAR.....ESTE JULGAMENTO!
ResponderEliminarADOREI <3 CRIS AMIGA <3
Minha querida
ResponderEliminarÉ preciso muita coragem para tirar a própria vida (há quem diga que é cobardia), mas eu acho que não.
Um texto que me emocionou muito embora contado com muita sensibilidade.
Um beijinho com carinho
Sonhadora
ResponderEliminarNão sei se o facto é real ou não...Sei que está extraordinàriamente bem escrito e descrito. Para se cometer uma tal acção é mesmo necessário estar no extremo da desilusão e do cansaço da vida.
Belíssimo o texto.
Bjgrande do Lago com amzade
Um texto que nos envolve com a beleza poética e a sensibilidade da narradora,que nos aponta
ResponderEliminaras falhas humanas na perversidade dos julgamentos.Enquanto a natureza em relâmpago a ilumina,
de olhos fechados para esta realidade.
Sensacional,Cristina!
Beijinho.
Bom dia, querida Cristina!
ResponderEliminarComo está?
Já sabia que tinha publicado, e talvez hoje comente o seu poema, que não li, ainda.
Obrigada por ter comentado o meu, que, por lapso, e porque sou "expert" (coitadita) nesta coisas de Informática, saltou para o meu blogue, porque cliquei em publicar e não em pré-visualizar, como faço sempre, enquanto o vou escrevendo.
O poema é muito grande, e está, ainda, em fase experimental.
As minhas desculpas, e guarde, por favor, as suas palavras lá mais para o fim do mês, ou princípio de fevereiro.
Boa semana.
Beijinhos da Luz.