Imagem- Escher
Ainda não sei porque me desencontrei
dos passos dos homens,
como se um fio luminoso marcasse a rota, e insistisse
em segurar-me os pés,
sobre a lâmina acutilante de uma navalha aguçada.
Amedrontada,
num equilíbrio quase forçado, ergo-me (trans)lúcida
numa tentativa infrutífera de encarar quem ousou
decepar-me os sonhos.
Silenciada,
na transparência de um Outono antecipado,
tento ensaiar o caminho, numa sequência de passos
sem retorno.
Mas ainda caminho!
.
.
.
ainda consigo caminhar...
.
.
.
Faço-me acompanhar de palavras
desiludidas pelas melodias que deixaram de entoar.
E os sorrisos que outrora me embalavam, tornaram-se hoje,
canções de despedida.
.
.
.
As marés, as noites de luar, o chilrear dos pássaros,
caíram no esquecimento das coisas sem nome.
Mas eu continuo a caminhar...
.
.
.
Num corpo cada vez mais frágil,
à medida que o coração se agiganta.
E cresce...
CRESCE
CRESCE.
A cada passo que dou,
a venda outrora opaca que me cobria o olhar cansado,
desdobra-se no horizonte,
deixando transparecer a luz da minha existência.
Pressinto o respirar das árvores,
pressinto o canto das estrelas,
pressinto o pulsar do sangue da vida,
e, por momentos, parece-me lógica a imortalidade de todas as coisas.
Quem sabe, numa outra dimensão, estará a ser pronunciado o meu nome.
Quem sabe, estes passos me conduzirão a algum lugar.
quem sabe...
talvez
.
.
eu caminhe com destino...
Pois sem parar, de pés descalços, continuo sempre,
a caminhar...
(eu)
O eu perante o avassalador, o eu perante a afronta, o eu perante o destituir da dignidade. Ainda assim, resiste, resiste sempre...
ResponderEliminar(Trans)lúcido e mobilizador, Cristina!
Beijo :)
Querida Cristina!
ResponderEliminarQuem sabe!
A vida pulsa! Vibra!
O universo inteiro age e reage!
Assim como nosso ser!
Linda, muito linda sua poesia!
Seja muito feliz!
Beijos!
Caminhar sempre será o processo,
ResponderEliminaro sentir a registrar
os passos
o respirar
a beleza
e a poesia viva...
Belíssimo, pulsante!!
Beijinhos, Cristina.