Hoje, descalça os teus pés
e fecha os olhos a essa ilusão
que teimosamente reflecte um rosto
que não te pertence.
Desfaz-te das máscaras
com que diariamente te confrontas,
observando os círculos percorridos
por uma humanidade quase desumanizada.
Ao menos hoje,
liberta as palavras que acorrentas na garganta
sem coragem de pronunciar o grito das aves,
contido nos movimentos imperfeitos
com que se separam das suas próprias sombras.
Há sempre um dia
em que o húmus terrestre
se prontifica a fortalecer os pés descalços,
e os pássaros voltam a sobrevoar as mentes
que um dia se esqueceram que amar era fundamental.
E apenas conseguiram ver
ventres cheios, inchados de matéria oca
na ilusão da imagem distorcida
pela convexidade de um espelho interior
onde tentaram vislumbrar
a complexidade da essência da alma.
Sinto que floresci de um caule robusto,
mas a minha carne continua a tremer
nesta tentativa sempre imperfeita de tocar o céu
nos momentos em que no meu silêncio
consigo ouvir o pranto da terra.
Hoje, descalça-te, verga-te, e sente o aroma
com que o sol brinda o teu olhar.
(eu)
Perfeito este despir-se de tudo que não floresce neste chão preparado para vida,onde o que mais importa é a cumplicidade do viver.
ResponderEliminarParabens Cristina pela contrução e inspiração sempre elegante no poetar.
Abraços de paz e luz na boa semana.
Bjo