sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Ao Menos Hoje



Hoje, descalça os teus pés
e fecha os olhos a essa ilusão
que teimosamente reflecte um rosto 
que não te pertence.

Desfaz-te das máscaras 
com que diariamente te confrontas,
observando os círculos percorridos
por uma humanidade quase desumanizada.

Ao menos hoje, 
liberta as palavras que acorrentas na garganta
sem coragem de pronunciar o grito das aves, 
contido nos movimentos imperfeitos 
com que se separam das suas próprias sombras.

Há sempre um dia 
em que o húmus terrestre
se prontifica a fortalecer os pés descalços,
e os pássaros voltam a sobrevoar as mentes
que um dia se esqueceram que amar era fundamental.

E apenas conseguiram ver 
ventres cheios, inchados de matéria oca 
na ilusão da imagem distorcida 
pela convexidade de um espelho interior 
onde tentaram vislumbrar 
a complexidade da essência da alma.

Sinto que floresci de um caule robusto, 
mas a minha carne continua a tremer
nesta tentativa sempre imperfeita de tocar o céu
nos momentos em que no meu silêncio 
consigo ouvir o pranto da terra.

Hoje, descalça-te, verga-te, e sente o aroma 
com que o sol brinda o teu olhar.




(eu)


1 comentário:

  1. Perfeito este despir-se de tudo que não floresce neste chão preparado para vida,onde o que mais importa é a cumplicidade do viver.
    Parabens Cristina pela contrução e inspiração sempre elegante no poetar.
    Abraços de paz e luz na boa semana.
    Bjo

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