Eram apenas
os contornos de um rosto
vago sem expressão,
perdido numa multidão
noctívara
movimentando-se
como um fonema solto
na imensidão de um poema.
Havia nele
a expressão singular
de um lugar poético
sem palavras sangrentas
nem nós presos na garganta
onde,
na combustão das mãos
tentava explicar
o fenómeno da vida.
Inúteis eram as asas
que se formavam
tentando segurar
o som do silêncio
a antecipar-se
ao nascimento da voz.
Essa que prolonga
palavras em ecos
retalhados de luz
como um corpo inteiro
lançado
à linguagem do infinito.
E o rosto reapareceu
emergido das sombras
despido
do luto que o cobria
enquanto
na ebulição do sangue
os dedos restauravam a palavra
que se acendia no pensamento.
pressentiu-se nele
o recolher da memória
enquanto o corpo
se abandonava ao sonho
cansado da lucidez
com que não conseguiu
desenhar-lhe um sorriso.
Depois, como que seduzida
pelo grito de uma ave nocturna
a multidão desaparecia
na extensão de um céu aberto
numa viagem sem regresso.
O sonho já ia longo
na respiração da noite.
De olhos cristalizados
na mudez do seu olhar,
apercebeu-se nesse momento
do significado
das palavras
que não disse.
(eu)
Da utopia de um sonho,até ao concreto do momento vivido ,mudo embora.
ResponderEliminarHá situações em que só o silêncio é capaz de interpretar e de expressar o sentido do voo. Muito em especial quando a memória se recolhe,enquanto o corpo e o seu gesto se abandonam ...«ao sonho cansado da lucidez com que não conseguiu desenhar-lhe um sorriso...»
Muito belo,nas entrelinhas da vida...lida por quem conhece os caminhos da sedução, da frustração,da fantasia e do encantamento.Porque é Poeta e o seu dom lho consente.Mesmo que o sonho se alongue na respiração da noite....
Grande sorriso para si...e grande respeito por sua Poesia,querida Cristina Cebola...
Aurora