Sentia-se perto do céu
como poderei dizer?
Havia uma luz que a cegava
e um sentimento intenso
que nela se frutificava.
Ao longe estava a porta
que ninguém conseguia abrir.
De olhos perdidos no vazio
quase clandestinos
sentiu a dor da terra
que a vira nascer.
Os lábios húmidos tremiam-lhe
enquanto nas palmas das mãos
árvores da vida começavam a crescer.
As portas secretas
abriram-se inesperadamente
num convite implícito
De regresso às origens.
E foi assim que começou a escrever.
No repouso silábico
da sua existência calma
incansavelmente escrevia a alma
calada.
Aves pousaram-lhe entre os dedos
freneticamente febris
dos poros inflamados do tempo
em que viveu
silenciada.
(eu)
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