segunda-feira, 10 de abril de 2017

Impermanências


Faça-se silêncio!
o ruído é-me nefasto ao gesto

Na permanência da velha árvore
debruçada sobre a janela do meu quarto,
hoje trago-te a inconfidência das rosas
e uma asa de anjo ,
como testemunho incontestável 
da finitude do voo.

todas as pombas que circundam o céu 
se vestiram de branco
e os homens abriram a boca de espanto
à inviolável luz de esperança
que atravessa todas as impermanências.

É assim que eu me sinto
irremediavelmente exausta.inconformada .
Nenhuma lua poderá transformar silêncios
onde estes olhos cegos se entregam
ao vislumbre de breves loucuras.

Um dia todos os poetas estarão mortos
e a mudez das almas 
será caricia apenas no coração das aves.



(eu)




Imagem- Lauri Blank

17 comentários:

  1. Poema belíssimo, com a tua grandiosidade expressiva de sempre, querida Cristina!
    Neste teu imenso poema, me tocou profundamente esta filosofia existencialista
    presente, a começar pelo belo título. A vida é um ciclo de impermanências com
    um grande significado maior, o aprendizado...
    Também associo a simbologia do voo com o ato Poesia, a necessidade de liberdade
    expressiva dos poetas, a permanecer nos voos dos pássaros!...
    Apreciei imensamente e sempre assim com a tua arte poética.
    Feliz páscoa (renovação...) para ti e família!
    Beijinhos.

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  2. Boa tarde, o hoje é sempre diferente do amanhã, certamente que as pombas vão circundar o seu feliz dia, a exaustão é o caminho para acalmia, lido poema de fácil interpretação.
    Votos de Páscoa repleta de alegria! Feliz Páscoa!
    AG

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  3. Um destino, o nosso. Ousar navegar, às vezes voar, mas as fronteiras são cada vez mais definidas. Que fazer? Reinventar a poesia, não há outro caminho.

    Um beijinho, Cristina :)

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  4. Tocou-me a inconfidência das rosas, Cristina, tendo em conta o seu intenso e impermanente brilho.
    Este poema é mesmo uma carícia no coração das aves. E eu vou tão leve!

    Beijinho, amiga, e feliz Páscoa.

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  5. Quantas vezes é preciso ser-se imperativo, com todo o corpo, para que nos ouçam, nos vejam e sintam o que sentimos! A advertência pelas palavras dotadas de propriedade (como as do nosso António Vieira) serão sempre a baioneta do poeta, mesmo que o punho já enferma de cansaço. Tens tudo isto, no teu poema. Melhor? Impossível!
    Feliz Páscoa, Cristina.
    Um bjo docinho
    (Grata pela tua gentil e bela presença no meu espaço)

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  6. Que lindo, Cristina! Faz pensar...
    Um dia todos os poetas estarão mortos e a mudez das almas será caricia apenas no coração das aves.
    Deixo-te meu desejo de uma ótima Páscoa a você e sua família.
    Obrigada, sempre, pelo seu carinho.
    Beijinhos.

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  7. Querida Cristina,
    Não ouso comentar, pois faltam- me palavras!
    Fica em mim a retumbar, o sentido, a poesia!
    Lindo demais, querida amiga!
    Feliz Páscoa para toda família!

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  8. um poema belíssimo onde o desassossego da Poeta se entrelaça com a esperança
    e se um dia os poetas estiverem todos mortos, o que não é provável, porque o Poeta nunca morre
    ele existe e existirá sempre na obra que deixa ou deixou
    gosto muito da maneira como fazes a construção dos teus trabalhos
    sempre muito originais
    boa semana.
    beijinhos
    :)

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  9. talvez um dia a poesia desça à rua
    e seja alimento.

    e então teu poema será desassossego
    no coração dos homens.
    no coração dos homens.

    belíssimo, gostei muito

    beijo

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  10. OI CRISTINA!
    SÓ A MORTE PARA CALAR A POESIA POIS, ELA BROTA DO CORAÇÃO DO POETA.
    É TÃO LINDO TEU POEMA QUE POUCO SE PODE DIZER, ELE FALA POR SI SÓ.
    ABRÇS
    http://zilanicelia.blogspot.com.br/

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  11. Apesar da finitude do voo, ou até por isso mesmo, há que ser impertinente de vez em quando.
    Excelente poema, gostei imenso.
    Bom fim de semana, amiga Cristina.
    Beijo.

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  12. Simplesmente maravilhoso.
    Que se faça silêncio para ler e sentir a poesia.
    Bom fim de semana
    Beijinhos
    Maria

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  13. É sempre bom encontrar uma linguagem capaz de reinventar-se criadoramente para revelar o seu desassossego; uma linguagem que nos faz perceber num único sopro as palavras, o ritmo, música, significação para que nela percebamos a poesia.
    Bravo, Cristina!
    Beijo,

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  14. Enquanto a alma do poeta se inclinar “na permanência da velha árvore debruçada sobre a janela” para onde também se verteu o teu olhar tão prenhe de poesia, acredito que “a mudez das almas será caricia” não apenas no coração das aves, mas em todos os versos que se criarem na contemplação das “pombas que circundam o céu” e que “se vestiram de branco” para reverenciar os versos que seriam criados no olhar atento de uma poetiza...
    Que poema mais cativante, minha linda! De uma beleza e profundidade que me pousou na alma e fez também divisar a bela imagem das pombas que circundam o céu...
    Que te cheguem horas enfeitadas de alegria, de sorrisos, de estrelas, que levem o teu olhar a passear no mundo encantado da poesia para que continues a nos trazer poemas tão prenhes de magia e beleza.
    Meu carinho num beijo aconchegado em pétalas de rosas brancas,
    Helena

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  15. Os poetas são seres que nunca morrem.
    Belo.
    Boa continuação de semana.

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