É fácil... muito fácil
sentir à noite a finitude
dos dias claros.
Principalmente
daqueles sem sombras,
que em nada deixam prever
a proximidade de um derradeiro dia.
É muito fácil
predizer o fim do mundo,
quando se nos afiguram
constantemente
rostos cinzelados de lábios pálidos
a anunciarem incessantemente
o óbito.
Todas as flores morreriam de espanto
se se soubessem a ornamentar
as mais luxuosas cerimónias fúnebres.
Elas nunca iriam compreender:
a sua beleza em jardins floridos,
nem a sua enigmática presença
nos rituais valetudinários da morte.
Nada é mais mórbido
que um cemitério ornamentado de rosas
ceifadas à vida,
ou uma missa a encomendar a alma
de um corpo ainda presente
já sem lágrimas para chorar.
Mesmo que esse dia,
fosse aquele dia
em que se predissesse,
Que o mundo até pudesse
nesse mesmo dia
vir a acabar.
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