Pudesse eu, meu amado,
dar vida ao sonho
que me abrasa a alma.
Pudesse eu, meu amado,
rasgar o véu
que te impede ver a cor
do meu olhar.
Mas a minha glória é essa!
Olhar-te com o meu olhar lasso,
sentir-te no rosto o embaraço,
por veres a força
do meu amor.
Vim ao mundo desbravar
florestas,
plantar flores nos desertos,
limpar caminhos lamacentos
e desdizer sábios e deuses.
Tu sabes, meu amado!
Plantei sonhos, plantei desejos,
acariciei corações, lambi feridas,
soltei olhares e soltei beijos.
Compreendi a bravura dos mares
abracei as marés e mudei os ventos
afastei de mim todos os lamentos
e lavei-me em lágrimas de saudades.
Com a cor do sangue, pintei a vida
e imaginei esverdeadas as minhas íris.
Sonhei-te, meu amado!
E no sonho havia uma força
prenhe de vida
a abrasar-me a carne....
Assim será sempre, meu amado!
Inviolável
esta luz de esperança
que me atravessa o corpo
até ao outro lado.
Onde o poema será
inevitavelmente
o dia da minha morte.
(eu)