terça-feira, 21 de maio de 2013
A Partir do Ponto de Partida
E voltara outra vez, ao início de tudo. Àquele ponto equidistante das margens, onde se sentiu pousar, no momento em que foi expulsa de um túnel escuro, por se ter esgotado o seu tempo de permanência.
Caiu numa estrada esquecida, pautada por duas linhas longitudinais, à semelhança das que contêm as águas de um rio.
Seguiu sempre em linha recta, deixando imaculado todo o espaço que ladeava as suas pegadas.
Sentia dentro de si, uma força viva que a impelia a continuar o percurso, vislumbrando em seus sonhos: cores, aromas e flores, capazes de alargarem sorrisos, e fazerem os homens felizes.
Algumas vezes, neste seu caminhar sem pressas, se apercebeu de ruídos de fundo vindos sem saber de onde, que tentavam assombrar-lhe o caminho e muitas vezes lhe criaram a ilusão, de que seria melhor repousar os pés e esperar que a vida se encarregasse de decidir, se deveria ou não, mostrar-lhe aqueles lugares para onde nunca ousara olhar.
A imensidão das águas que a tumultuavam, impossibilitaram-na de se aquietar.
E, sentindo-se novamente na dependência do tempo que ameaçava esgotar-se , resolveu recomeçar, renascer, e deixar os pássaros voarem livremente entre as margens que ela própria lhes impusera, no momento em que se sentiu pousar no ponto de partida.
Sem destino marcado, mas com um objectivo bem delineado, começou a pintar com palavras, a sua própria paisagem...
(eu)
Imagem: Felix Mas
terça-feira, 7 de maio de 2013
Adornos
Sempre, ao amanhecer,
há orquídeas brancas a revestirem-me a pele
e pérolas que me adornam
como se eu as merecesse.
Sobre o leito,
deixo o silêncio das horas cansadas,
onde permanecem gotas de suor falecido,
abandonadas ao destino das palavras.
Há muito, que não ousava usar o verbo,
pergunto até, se valerá a pena
estender a dor, num rol indiscreto de emoções.
Desnudar-me da alvura das flores,
e atirar-me ao mundo na ânsia
com que as aves sobrevoam os céus
em gritos silentes de paixão.
Desconheço as horas que se revestem
em véspera do dia seguinte.
Desconheço a metafísica que me envolve o Ser.
Desconheço a brevidade com que me dirijo
para o oculto da passagem secreta.
Desconheço também o segredo das ostras
e de todas as criaturas submersas em alto mar.
No entanto as pérolas insistem em enfeitar-me o colo,
as pétalas brancas em cobrirem-me o corpo nu.
Enquanto a respiração me segura à vida
e me dá o privilégio de reter, e, não escrever:
- o último verso-
Imagem -Alfred Cheney johnston -
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