segunda-feira, 3 de março de 2014

Ponto Luminoso





Ainda há em mim uma réstia de sangue que me aquece a vida.
Há uma artéria azulada, onde a paixão habita, mais ou menos a dois terços e meio do espaço que vai dos lábios ao coração.
E o beijo, é a luz a iluminar o caminho como sol que se expande penhasco abaixo, em direcção ao rio. 
A poesia é o ponto luminoso situado exactamente ao centro da língua, que impulsiona o desejo pelo poema pousado em mãos grávidas, cujos dedos ignóbeis - diria até perversos- consumidos pela impotência 
impunemente imposta pela razão, cortam as asas ao voo, e deixam os versos caírem no chão. Abortando-os. Matando-os,
um pouco antes do momento em que pudessem nascer. 
E assim, cessa o desejo que alimenta o poeta. 
No auge do seu momento inspiratório desfalece, sufocado pela réstia que ainda lhe sobrava de ar ou sangue.
E prontifica-se a reinventar-se num outro qualquer lugar.

***

Ao centro da língua , 
renasce-me um ponto luminoso. 
E na boca, uma artéria azulada, 
por onde flui o sangue 
que me impulsiona a vida.

(eu)


Imagem - Tatiana Parcero

18 comentários:

  1. Surpreso por esta anatomia
    provo o poema, com a ponta da língua
    Estranho sabor, estranho porque belo
    entre o absinto e o caramelo
    com um pequeno travo
    avinagrado
    que de pouco se dá conta

    Lateja-me o cérebro
    do lado certo
    onde se localizam todas as emoções

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  2. É entre a boca e o peito, entre os lábios e o coração que o poema se passa.
    O sentimento sobe e na língua adquire forma. Se permitimos demasiada interferência racional os versos sentir-se-ão constrangidos e sem a suave ondulação que permite a flutuação da beleza.
    Muito bonita e forte a imagem dos versos que morrem antes de terem nascido. Todo esse desejo feito de ar, luz e sangue, em necessidade de permanente reinvenção.
    Muito belo, Cristina! E intenso.
    xx

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  4. Olá, querida Cristina!

    Depois de ler as suas palavras, duas vezes, no mínimo, fiquei, como sempre, sem saber o que dizer, porque a mente humana, pelo menos, a minha, não atinge, não chega lá, às suas palavras.

    Tudo, aqui, é tão saído do coração, e, logicamente, puro e milimétrico, que só ficam as gotas de sangue arterial para conseguirmos entender o porquê daquilo que escrevemos e sentimos.

    Quando se escreve poesia, parece que estamos em processo de acidente cardiovascular, intenso, mas com recuperação, graças a Deus, porque, posteriormente, fazemos a nós próprias, recuperação dos movimentos e da voz, que fica, sempre embargada.

    Quanto àqueles, que abortamos, espontaneamente, ou não, há pouco e muito a dizer, porque isso faz parte das nossas intimidades e do nosso eu, que, não sabemos partilhar, com ninguém.

    No centro da nossa língua, como a todas as outras partes do corpo, aflui sangue, que conoto com VIDA e POESIA, A SUA!

    Dias bem luminosos e com alma.

    Beijinhos, com muita amizade e estima.

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  5. A tua poesia luminosa que preenche o espaço ímpar de beleza,profundidade e inspiração.Tinha que emergir de uma fonte luminosa

    de pulsão de vida,que corre a emoção a impulsionar a melodia do coração do poema...

    E sempre bela esta melodia luminosa da tua poesia!!!

    E sempre fico encantada ao contato com esta luminosidade,Cristina...

    Beijinhos,querida!

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  6. Escreve-se, aqui, a poesia com o corpo inteiro...
    Beijos.

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  7. Tudo se move

    até a sombra projectada
    também luz

    Bjs

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  8. Um ponto luminoso que bem pode estar no centro de tudo.

    Beijos

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  9. o Poeta reinventa sempre a poesia....

    lindíssimo!

    :)

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  10. Um poema maravilhoso Cristina. Um beijinho.

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  11. OI CRISTINA!
    E ASSIM O POETA RENASCE EM OUTRO LUGAR OU POEMA QUALQUER...
    LINDO DEMAIS TEU TEXTO .
    ABRÇS
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  12. Uma das mais linda definição da poesia, que iluminada inspiração!
    As palavras se encantaram, parabéns Cristina pela construção e analogias perfeitas.
    Carinhoso abraço amiga.
    Beijo de paz.

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  13. Que forma divina de aludir ao nascimento da poesia, parabéns! amei o texto! abração

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  14. Continuo a partilhar as suas magníficas palavras e sentimentos.
    Bjinhos

    http://lerviverler.blogspot.pt/2014/03/num-campo-de-papoilas.html

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  15. Na geometria corporal do verso se intui a poesia íntima e bela a respirar no teu poema!
    Beijo, querida amiga.

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  16. Ah, Cristina, consigo a reinvenção é uma constante. Nós, leitores, agradecemos.

    Beijo :)

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  17. Boa tarde,
    o sentimento é sensível ao corpo todo, não sendo eu poeta, admiro a sua poesia encantadora.
    Abraço
    ag

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