Nem sempre
Nem sempre a noite é clara
deixando perceptível
o encarnado vivo das papoilas.
nem sempre
a voz dos pássaros entoa cânticos
onde o silêncio ainda se consome
e a luz lunar prateia os campos,
e das estrelas saem purpurinas azuis ,
e a espuma das ondas salga a areia fina
onde deixamos marcados os nossos pés.
e os nossos corpos.
Nem sempre
Nem sempre da janela do meu quarto,
consigo ver a velha árvore
a suplicar-me que se faça mutismo,
a implorar-me o amainar dos ventos
para que, entre as minhas margens
se contenham as águas.
Sim as águas.
onde vagueiam hastes perdidas,
onde derretem fogos
ainda por extinguir, no rescaldo dos anos.
Mas hoje,
somente hoje,
e, desculpem-me a ousadia:
Faça-se silêncio!
O ruído é-me nefasto ao gesto,
e os dedos contorcem-se
enquanto o pensamento vagueia
entre as sete colinas desse campo
coberto de vermelho vivo,
tal e qual um manto de papoilas,
a afirmarem-se vida,
e a vidraça que nos separa.
Porque hoje,
somente hoje,
da janela do meu quarto,
quero ignorar a ponte secular
que desaba em ruínas,
quero enfeitar a velha árvore
com estilhaços luminosos
de bolas de sabão,
quero agigantar-me e,
extrapolar-me para além do corpo,
ou da pele,
ignorar as margens,
e quem sabe,
tornar-me ilha,
no cimo de uma montanha.
Somente hoje,
deixem-me pintar de azul -as papoilas-
e apagar tudo o mais, que for dissoluto.
Quer ao gesto. Quer ao pensamento.
(eu)
Imagem-Alexander Dolgikh
Embalado na beleza dos versos
ResponderEliminarperdi-me
no sentido da metáfora
Contudo, aos poetas nada se nega
Mas faz-me a promessa
amanhã, restitui-me o meu campo vermelho
Querida Cristina,
ResponderEliminarBelissima poesia!
Graças a Deus, a poesia nos permite mudar as cores, as formas, enfim a realidade!
Pintamos nossos sonhos no imaginário das palavras!
Seja muito feliz!
Beijos!
que hoje!
ResponderEliminarsomente hoje!
o azul inunde o campo das papoilas
e que hoje, somente hoje!
o meu olhar seja somente o que eu quiser.
amanhã eu terei o azul
e as papoilas voltarão a ser encarnadas
e frágeis como papel.
:)
Linda imagem, maravilhosos versos! Somente hoje, deixo-te fazer o que bem quer. A velha árvore é sábia para entender e receber-te!
ResponderEliminarBeijos e ótimo fim de semana! :)
Peço desculpa a quem leu e comentou. O poema não estava completo, por erro de publicação no blogue.
ResponderEliminarAgora sim, já está corrigido.
Grata a todos pela leitura e pela presença.
Um abraço da
Cristina
Um poema em que te agigantas e te afirmas vida e luz
ResponderEliminarignoras as margens e brilhas
para além do gesto
no vermelho vivo da montanha.
Um poema belíssimo, Cristina. Parabéns muitos :)
Um beijinho e um 2014 muito feliz :)
Por hoje faça-se silêncio...porque nem sempre conseguimos ouvir o cântico dos pássaros. E numa ilha no cimo da montanha, teremos ao nosso alcance o azul onde as papoilas crescerão...
ResponderEliminarBeijinhos
em silêncio um poema que é música.
ResponderEliminarbelo!
Mais um excelente poema.
ResponderEliminarOnde até as papoilas mudam de cor...
Gostei imenso, como sempre.
Cristina, tenha uma boa semana.
Beijo.
A tua voz poética a criar um mundo novo - só hoje!
ResponderEliminarPor mim, fiz-me silêncio e voei contigo.
Maravilhoso, amiga!
Beijinho.
Na ousadia do hoje se projecta o amanhã.
ResponderEliminarMuito belo, Cristina!
Beijo :)
Olá, querida Cristina!
ResponderEliminarPor vezes, acontece, mas "Nem sempre", graças a Deus, porque a sua poesia precisa de se espraiar, de se mostrar e de gritar bem alto (ai, hoje, pede silêncio), para que as mentes acordem, ou adormeçam ao sabor desta "VIDA ENTRE MARGENS", que pode ou não ser só poética. Eu creio que são abrangentes, as margens, e que entre elas há um rio de palavras que as eleva, que lhes dá vida, ao sabor da corrente.
Todo o seu poema está cheio de cor, natureza, súplicas, indefinições, mas os poetas/poetisas são assim.
ADORO PAPOILAS, CAMPO DE PAPOILAS, OU NÃO FOSSE EU ALENTEJANA. COMO É BONITO VER UMA MULHER TRIGUEIRA "PERDIDA" NELES E NAS LINDAS FLORES!
A poetisa Cristina Cebola, hoje, quer tanta coisa! Não consegue dominar as palavras, os estados de alma, não é isso? Ah, se tivéssemos o poder de pintar o mundo, tudo, incluindo as pessoas, de cor verdade, de esperança e de sinceridade!
É ISSO QUE PRETENDE COM O SEU POEMA. QUEM SABE, UM DIA!
Boa semana.
Beijinhos da Luz.
Para lá do azul
ResponderEliminarBjs
A janela, grita-lhe o silêncio do pensamento.
ResponderEliminarO vidro não separa a vontade, o querer do momento.
Uma poesia sofrida, mas clara, diria, alada.
Nem sempre avida nos mostra o que queremos.
ResponderEliminarMas tem algumas vezes...e isso é muito bom.
Beijinhos
Simplesmente um poema grandioso!!
ResponderEliminarUm daqueles poemas que se inscreve num espaço único de beleza sublime,sensibilidade rara
e inspiração magistralmente escrita por ti, Cristina.
Ficou em mim assim:
silencie os barulhos (interno e externo) e contemple a
beleza da vida (natureza) em movimento colorido,melódico e harmônico...
A imagem belíssima.
Beijinho.
Vengo del blog de nuestra Amiga en común Jossara Bes (Del Blog:contos-poemas) y me ha encantado tu Mágico Espacio; por lo cual, si no te importa, me apunto como seguidor de Tu Rincón, pleno de sensibilidad y Poesía.
ResponderEliminarVeo que eres de Portugal y por casualidad mi última Poesía esta dedicada a este Hermano País que tanto estimo y relación tengo con él.
Te invito a pasar por mi blog:"poesiayvivencias".
Abraços.
Olá Cristina!
ResponderEliminarUm poema lindíssimo.
Hoje, mas só por hoje poderão as papoilas mudar de cor. Depois voltarão a ser vermelhas como sempre...:-)
E que continues a escrever desta forma maravilhosa. Gostei muito.
xx
Minha querida
ResponderEliminarPor vezes desejamos mesmo mudar a cor ao tempo...o perfume às flores. Por vezes desejamos apenas estar.
Lindo como sempre poetisa.
Um beijinho com carinho
Sonhadora
Olá, querida Cristina!
ResponderEliminar´
Como tem passado?
Passo tarde e a más horas, mas o tempo não é elástico. Estive a fazer alguns agradecimentos, e respondendo a e-mails, e quando dei por mim, já passava das 23h.
Desejo-lhe uma boa semana, e que este frio abrande. Estou, também, a trabalhar no meu poema, que, talvez, publique neste fim de semana.
Beijinhos da Luz.
Somente hoje eu entro em silencio, calçando pantufas para não acordar deste lindo transe poético.
ResponderEliminarSomente hoje eu fico calado ouvindo seu canto.
Bravo Cristina, muito lindo e encorajador.
Linda semana para voce ai sobre esta estrela que lhe ilumina e inspira.
Carinhoso abraço amiga.
Genial, um dos seus melhores poemas.
ResponderEliminarParabéns por tanta criatividade junta...
Beijinhos.
Não tenho conseguido comentar. Mas é sempre com muita emoção que termino a leitura dos seus poemas. Bjnhos
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